Repercutiu mal na sociedade paranaense a assertiva de Álvaro Dias, candidato ao governo do Estado do Paraná, de que na sua administração a polícia será “a primeira a atirar”, na verdade um estímulo à violência que está sendo combatido duramente nas polícias Civil e Militar, instituições que já abrigam em seus âmbitos comissões de Direitos Humanos e ligações com o Fórum da Paz, citando como exemplo a Polícia Civil, ações como essas estimuladas pelo seu sindicato, no caso o Sinclapol, cujo presidente dirige tal comissão. Aliás, embora passe despercebido, quem recorda de uma denúncia efetiva de violência policial civil desde o ano passado? Não existe, o que evidencia a nova imagem da instituição perante o público.

Certamente o candidato Álvaro Dias não recorda do lamentável episódio que vitimou o jovem Rafael Zanella, estudante morto em Santa Felicidade numa abordagem infeliz, justamente dentro do lema “atirar primeiro e perguntar depois”. Os responsáveis, policiais civis, hoje estão presos ou aguardando julgamento, o que gerou um pedido de perdão à mãe da vítima, que hoje conhece e até mesmo defende o sindicato da categoria, fato evidenciado na aprovação da emenda de nível superior, ocorrida no ano passado, quando esteve ao lado do presidente do Sinclapol nas comissões da Assembléia Legislativa do Estado.

Estão corretos os críticos da proposta equivocada de Álvaro Dias ao afirmarem que a violência gera a violência e que muitas das infrações penais resultam da falta de empregos, educação e saúde, fatores presentes em nosso País, onde os excluídos somam milhões de pessoas, muitas delas que praticam os chamados crimes “famélicos”, o que significa para o leigo “roubar para comer”, sendo prova disso a prisão de uma mulher em Ponta Grossa, que furtou do mercado um vidro de xampu contra sarna para usar em seus filhos.

Como policiais civis vivemos a realidade do País e somos obrigados a atirar para matar sempre que necessário, o que deixa seqüelas psicológicas nos policiais, profissionais que no entanto refletem antes de tais medidas extremas, pois um erro irreparável pode sempre ocorrer, ceifando a vida de outro Rafael Zanella, deixando enlutados seus pais, irmãos e amigos, além de comprometer a imagem das instituições.

Outra falácia é Álvaro Dias afirmar que pagará bem aos policiais, justamente ele que acabou com o escalonamento vertical de salários na Polícia Civil, desatrelando os policiais de base dos delegados de polícia, deixando os primeiros quase na miséria, prejuízo que o sindicado da categoria não conseguiu reverter até os dias de hoje.

Em síntese, Álvaro Dias está equivocado tanto em relação às táticas policiais, que evidentemente desconhece, como sobre os salários desses profissionais, pois longe de estimular a melhoria, como publicamente apregoa, é o responsável pela perda do poder aquisitivo da classe, o que é uma verdade inquestionável como o uso da força policial contra os professores da rede estadual de ensino, quando muitos deles sofreram sérias lesões físicas que perduram até hoje, causadas por bombas, cassetetadas e mordidas de cães.

Enquanto isso, de equívocos vamos vivendo, escolhendo mal nossos representantes, cuja tônica dos discursos e programas de governo é uma falácia.

Luiz Bordenowski é presidente do Sinclapol, membro do Centro de Letras do Paraná.

continua após a publicidade

continua após a publicidade