A Polícia Federal já tem provas de que foi criminoso o incêndio ateado em três apartamentos habitados por alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (Ceu), da Universidade de Brasília (UnB), na madrugada de ontem. Os primeiros indícios apontam para racismo e xenofobismo (preconceito contra estrangeiros) e já há dois suspeitos, provavelmente alunos brasileiros da mesma universidade, que foram vistos no local momentos antes do incêndio.
No momento em que as portas dos apartamentos foram incendiadas, havia dez estudantes africanos dormindo. Os criminosos colocaram tijolos em volta das portar para dificultar a fuga esvaziaram extintores, numa evidência de que o crime foi premeditado. A seguir jogaram combustível nas portas e atearam fogo. Dos extintores e da garrafa plástica, encontrada parcialmente preservada do lado de fora do imóvel, foram recolhidas impressões digitais, que estão sendo analisadas pela perícia técnica da PF. Ninguém se feriu, mas houve muito pânico.
Os depoimentos de oito testemunhas e dos primeiros suspeitos serão tomados amanhã. O crime chocou os meios políticos e a comunidade universitária. Uma comissão de representantes do Congresso, da Secretaria Especial de Política de Proteção Racial (Seppir) e de órgãos de combate ao racismo reuniu-se nesta quinta-feira (29) com o reitor da UnB, Timothy Mulholland, para cobrar providências. "Não é um fato isolado, nem na UnB, nem na sociedade brasileira" afirmou o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Mulholland anunciou punição exemplar para os autores do crime, que serão expulsos se forem alunos e uma série de medidas para conter o xenofobismo e o racismo na instituição, pioneira na implantação de cotas raciais para negros em seus cursos. A UnB decretou o dia 28 de março como dia da igualdade racial para lembrar a data da agressão. Mediante acordos internacionais, a UnB tem cerca de 400 estudantes estrangeiros, dos quais 23 vivem na Céu. Entre esses, 20 são oriundos de países africanos.