Alunos do supletivo têm as piores notas no Enem

As notas médias dos alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) o antigo supletivo, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão próximas das piores obtidas pelos estudantes do ensino regular. Os alunos de EJA do País tiveram média de 35,75 – numa escala de 0 a 100 – na prova realizada no ano passado por quase 3 milhões de pessoas. São quase nove pontos de diferença em relação às médias de quem estuda no ensino médio comum

A EJA começou a ganhar importância no País recentemente; a ajuda federal a esse nível de ensino se restringia a Estados do Nordeste até pouco tempo. São mais de 4 milhões de alunos hoje, mas nem todos participam do Enem já que a prova não é obrigatória. A EJA oferece ensino fundamental e médio em menos tempo para adultos e é essencial para assegurar que as pessoas alfabetizadas tardiamente não voltem a ser analfabetas. O País têm 16 milhões de analfabetos

"São pessoas que não acreditavam mais na escola, estavam desmotivadas, mas acabaram voltando. As adversidades são maiores", diz, sobre os alunos de EJA, o responsável pela área no Ministério da Educação (MEC), Ricardo Henriques. Para ele, a diferença nas notas não é tão expressiva, levando em conta o perfil do público. Mas, na comparação com os resultados do ensino regular divulgadas pelo MEC em fevereiro, nota-se que as piores escolas públicas de capitais como Florianópolis e Vitória têm notas melhores que a média de EJA

Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC (Inep), que realiza o Enem, Reynaldo Fernandes, percebe-se também que não há grande diferença entre o aluno de EJA pública e de EJA particular, como ocorre no ensino médio comum. As particulares têm média de 40 pontos, enquanto as públicas ficaram com 35,51. Já a diferença no ensino regular é de 16,22 pontos a mais para as particulares

"A EJA privada muitas vezes acaba sendo uma facilitação não desejada do ensino, com cursos de poucos meses", diz a especialista em EJA e coordenadora da ONG Ação Educativa, Vera Massagão. Em São Paulo, são comuns supletivos que oferecem ensino médio e fundamental em apenas um ano. No ensino público, no entanto, há mais controle e exigência mínima de dois anos para cursar da 5ª à 8ª série e mais um ano e meio para as três séries do ensino médio.

Vera acredita que as médias mais baixas dos alunos de EJA refletem o perfil do público, mais excluído e mais pobre. Além disso, eles convivem com os problemas do ensino noturno nas escolas – a EJA só funciona nesse período – em que há mais falta de professores, bibliotecas fechadas e menos tempo de aula. "O ideal seria que essa metade de tempo não significasse metade de qualidade", diz Vera. Para ela, a educação para adultos deveria ser focada em competências da vida, incentivo a pesquisas, à leitura e ao uso do raciocínio.

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