O repique do dólar, que atingiu hoje níveis recordes no Plano Real, cotado a R$ 3,78, paralisou as compras e as vendas de pelo menos dois importantes setores que usam insumos cotados na moeda americana: indústrias de óleo de soja e fabricantes de aparelhos eletroeletrônicos e informática. Além disso, essa forte pressão de custos já faz com que fabricantes de remédios avaliem a possibilidade de tirar alguns medicamentos de linha.
Desde a metade da tarde de hoje, quando o dólar atingiu R$ 3,81, a Caramuru, por exemplo, fabricante de óleo de soja com as marcas Sinhá e Dois Amores, suspendeu as compras do grão e as vendas do óleo. “Ficamos totalmente sem parâmetros. Por causa dessa grande volatilidade da moeda americana preferimos suspender os negócios preventivamente”, afirma o vice-presidente da companhia, César Borges de Souza.
Com isso, cerca de 800 toneladas de óleo que a empresa fabrica e vende diariamente deixaram de ser entregues ao mercado. Esses volumes são comercializados por cerca de 75 vendedores e representantes espalhados pelo País e conectados on-line à matriz em Itumbiara, em Goiás.
Esta é a segunda vez neste ano que a Caramuru suspende as vendas devido à grande volatilidade do câmbio. A primeira vez foi em fins de julho, quando o dólar atingiu R$ 3,30. Nessa época, a Cargill também interrompeu as vendas de óleo de soja Liza. Hoje, procurada pela Agência Estado, a diretoria da Cargill não foi localizada.
Na tarde de hoje, uma grande fabricante de aparelhos de imagem e som e informática, produtos que têm uma boa parte de componentes importados, suspendeu as vendas. A empresa também começou a estudar a redução na produção para não expor seus produtos às oscilações do câmbio. De acordo com fontes do mercado, a companhia pretende manter os negócios paralisados até que a volatilidade do câmbio diminua e o dólar se estabilize.
Remédios
O presidente da Biosintética, Omilton Visconde Júnior, está estudando a possibilidade de tirar do mercado alguns medicamentos. “Estou pagando para vender muitos remédios, principalmente os genéricos importados”, diz Visconde. Entre os medicamentos que podem sair de linha estão genéricos importados para diabetes e convulsões. Segundo ele, o prejuízo nos medicamentos importados está em 15%. “Logo após as eleições, vamos ver como fica o câmbio e então decidir se continuamos a vender esses remédios.”
Segundo ele, mesmo os remédios fabricados no Brasil estão sendo afetados pela alta do dólar, porque 99% dos princípios ativos são importados e respondem por cerca de 40% do custo. “É uma catástrofe. Nossos preços estão congelados desde janeiro, com o dólar a R$ 2,36.” No genérico para pressão alta Maleato de Enalapril, por exemplo, a margem caiu de 30% para 5%. “O remédio está saindo por R$ 16,67, mas com esse dólar, deveríamos cobrar no mínimo R$ 20”, diz Visconde.
A disparada do dólar começa a tirar o sono dos importadores que já fizeram praticamente todas as encomendas do Natal. “Para eu dormir bem, não vou lembrar que o dólar bateu hoje R$ 3,81”, afirma o sócio-diretor da Casa Santa Luzia, Jorge Conceição Lopes.
De toda forma, Lopes diz que trabalha hoje com um dólar médio de R$ 2,90 para calcular os preços das mercadorias em estoque. Se o câmbio se consolidar em outro nível, o dólar médio usado pela empresa será ajustado, mas aos poucos, “para o cliente não sentir”, pondera o diretor. “Só vou olhar para isso dentro de dez dias.”
Lopes conta que as encomendas do Natal foram feitas e que não há chance de cancelamentos. “Mas estamos preocupados”, admite.
