Almas sebosas

Ninguém mais quer ser ministro nem presidente de banco público. Ou de estatal. Quem tem vida privada, quem tem recursos, não vai querer se expor e ter vida devassada. A observação é do presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, que entra assim na campanha para “esculhambar” a CPI do Banestado, já esculhambada por outros motivos. Genoino, como outros condestáveis da República, quer dar um paradeiro no “denuncismo”, já referido pelo presidente Lula e pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu – este, denunciado, mas não investigado.

A CPI do Banestado, como se sabe, investiga a lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e remessas ilegais de divisas ao exterior através das famosas contas CC-5. Cerca de trinta bilhões de dólares (equivalentes a qualquer coisa próxima de noventa bilhões de reais) teriam sido desviados do País no curto espaço de tempo de quatro anos (1996-2000). Por envolver gente graúda, o maior resultado da CPI não estaria em suas conclusões, mas, sim, no que sugere sem estar concluído. Cunhou-se por aí o conceito de que centenas de figuras da política nacional (cuja relação nunca ninguém publicou) estariam envolvidas e, por isso mesmo, tudo não terminará senão em pizza…

Os recentes episódios envolvendo o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vêm se somar aos anteriores e reforça a tese segundo a qual é necessário colocar um freio também no “denuncismo” originado pela facilidade com que se quebram sigilos (bancário, telefônico, fiscal, etc.) das pessoas. O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, acha que o País está vivendo uma paranóia. “Vive-se tenso 24 horas por dia, porque este País virou a República dos dossiês sem origem e sem comprovação”, queixou-se ele.

Mas a motivação de Genoino advém de outra fonte. O tesoureiro do partido que preside, Delúbio Soares, passou de mero controlador das contas da agremiação para figura de destaque no noticiário dos últimos tempos. Além de comandar o vertiginoso crescimento do PT desde que virou governo e de iniciar com todo barulho possível uma campanha para a construção nacional da sede do partido em São Paulo, descobriu-se que também os bens privados de Delúbio estão sob suspeita. Com um salário de aproximadamente cinco mil mensais, ele dobrou a extensão das terras em nome de sua família em Buriti Alegre, no Sul de Goiás. Informa-se que o que diz que pagou cento e cinqüenta mil reais vale, na verdade, oitocentos mil reais. E que pelo menos uma parcela da conta teria sido paga em dinheiro vivo – o novo símbolo da dúvida nacional, também alimentada pelo governo à caça da CPMF.

Sugere-se que Delúbio esteja se aproveitando da boa maré em que se situa o partido (ou se situava até o fatídico show de Brasília, que envolveu o Banco do Brasil no escândalo dos ingressos) para tirar proveito, não só para a agremiação a que presta serviço, mas também proveito próprio. De que forma, ninguém ousou dizer até aqui. Mas isso fica por conta dos “bons” tesoureiros de partidos ou campanhas, que têm no finado PC Farias a mais sinistra referência. Até aqui, o diz-que-diz pouco interessa e, objetivamente, não poderia ser muito levado em conta.

O que novamente intriga é o presidente do PT adotar o mesmo estilo em vigor no Planalto para dar resposta a informações que, aparentemente, não encontram explicações plausíveis. Genoino podia dizer que não acredita, mas que a denúncia será investigada até o fundo. Mas ele prefere desqualificar quem ele entende seja o autor, ou autores, das informações não de todo contestadas. A gente do Nordeste – explica ele que é nordestino de origem – diz que existem as almas boas e as almas sebosas. Assim, “quem está fazendo intriga dentro do PT são as almas sebosas”.

Como se vê, a seborréia dessas almas está contaminando tudo – do Banco Central ao comando do PT, passando pela Casa Civil, pelos ministérios da Saúde, da Cultura e outros. E contra a doença, que às vezes se manifesta em forma de dossiê, outras em forma de CPI, de documento proveniente da Receita ou mesmo em forma de gravações autênticas, ainda não foi encontrado remédio eficaz. Fala-se, por exemplo, em controlar a imprensa através da criação de um conselho nacional. De qualquer forma, um desafio a mais que aí está.

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