Foto: João de Noronha/O Estado

 Carne foi um dos produtos que mais subiram no mês passado.

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A crise da febre aftosa chegou à inflação oficial e, junto com os combustíveis, elevou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,75% em outubro, mais do que o dobro dos 0,35% de setembro.

O grupo de transportes contribuiu com 65% da taxa, sob impacto dos reajustes na gasolina, álcool, ônibus urbanos e passagens aéreas. Mas, a carne representou a segunda maior contribuição individual (0,11 ponto porcentual), atrás apenas da gasolina (0,18 ponto).

O índice, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio acima do esperado pelo mercado financeiro, que projetava variação em torno de 0,60%. O IPCA é referência para a meta de inflação do governo, cujo centro é de 5,1% em 2005. Até outubro, a taxa acumulou alta de 4 73% e, em 12 meses, de 6,36%.

A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse que o IPCA de outubro concentrou pressões que devem ser pontuais. "Todas as indicações são de que outubro, com taxas relativamente altas, concentrou pressões que não se repetem, como combustíveis e passagens aéreas." O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, também avalia que o aumento foi pontual e que "nos próximos seis meses a trajetória da inflação será tranquila".

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Segundo Eulina, prova disso é que a alta dos produtos alimentícios (0,27%) ficou bastante concentrada em produtos como carne e frango e houve estabilidade ou queda em vários outros itens. "A alta não significa que houve aumento generalizado dos alimentos", disse.

Os dados da inflação no atacado divulgados hoje pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), cuja coleta de preços foi realizada em período posterior a do IPCA, mostraram que os preços da carne já começaram a recuar. Em outubro, segundo Eulina, o reajuste de 4,2% na carne não respondeu a problemas objetivos de oferta, mas provavelmente a um "alarme" dos produtores por causa da aftosa.

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Segundo ela, a entressafra da carne costuma afetar os preços do produto em outubro, mas o reajuste deste ano foi muito maior do que no ano passado, o que confirma o efeito da aftosa. Em outubro de 2004, o preço da carne havia aumentado 1,01%. "Só com um segundo resultado da inflação da carne será possível confirmar esse efeito da aftosa, mas já há indícios", disse.

Ela observou que a aftosa também parece ter pressionado indiretamente os preços do frango (3,9%), "a reboque" da alta da carne, por causa do crescimento da demanda pelo produto alternativo carne vermelha. Para Cunha, o comportamento dos preços da carne é o lado mais confuso e imprevisível da inflação no momento, mas não deverá impedir que o IPCA desacelere novamente em novembro, para uma taxa em torno de 0,50%.

Alimentos

O grupo dos produtos alimentícios, que vinha registrando queda nos preços há quatro meses, reverteu a curva e voltou a aumentar em outubro (0,27%), pressionado especialmente pelas carnes. Eulina sublinhou que muitos alimentos ainda mostraram preços em queda ou estáveis, o que garante que não houve "alta generalizada".

Além disso, prosseguiu a forte pressão dos combustíveis no mês, com reajuste na gasolina (4,17%), ainda refletindo o aumento nas refinarias em setembro e, no álcool (10,48%), nesse caso por causa da entressafra na cana-de-açúcar. Além desses produtos, o grupo transportes (2,21%), com forte peso no IPCA, sofreu impacto de itens como ônibus urbanos (1,10%), passagens aéreas (11,06%), conserto de automóvel (1,55%) e automóveis usados (1,12%).