Alimentar o faminto

Dentre as muitas lacunas que o governo central, ao longo de décadas, tem deixado abertas em resultado da conduta programática que apenas resvala na genuína intenção de resolver questões de fundo, o País se ressente de política de segurança alimentar concebida segundo parâmetros escorados no avanço científico e tecnológico da produção de alimentos, transformação agroindustrial e sistemas de distribuição, comercialização e acesso aos excluídos.

Pouco se tem ouvido dos principais candidatos à Presidência da República sobre este item indispensável em qualquer proposta séria, qual seja a de estabelecer linhas gerais dum projeto firmado em recursos definidos, clareza de metas e, em primeiro lugar, de que forma a teoria passará a ser realidade. Os candidatos prometem muitas coisas, sabemos todos, embora a maioria das promessas seja autêntica conversa fiada. Como os eleitores não dispõem de mecanismos de cobrança, ou já se convenceram de que esse é um direito utópico, vai-se o tempo e os gargalos cruciantes na experiência de milhões de pessoas ficam inalterados.

Em resumo, a triste verdade admitida pelo governo federal é que ainda não se conhece o número real de excluídos de qualquer esboço de política de segurança alimentar. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituição que merece amplo respeito da sociedade pelo rigor com que realiza seus estudos e pesquisas, só agora procede ao levantamento desse dado precioso para a fixação do universo a ser alimentado de maneira digna e conveniente.

Extra-oficialmente, trabalha-se com a informação, ainda não comprovada por levantamento estatístico, que o Brasil tem algo em torno de 7,7% da população – 14 milhões de pessoas – vivendo em situação de risco alimentar. São 3,3 milhões de famílias que aliam à deficiência na ingestão de alimentos indignas condições de habitabilidade e nenhum acesso aos serviços básicos de educação e saúde.

Somente um político com lídima vocação de estadista teria o estofo necessário para atacar e resolver o problema que iguala nosso País aos mais atrasados do planeta. Discursos empolados e palavras ao vento, jamais houve tanta veracidade numa afirmação, não enchem barriga. Senhores candidatos, não enganem o povo, trabalhem…

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