Alianças fisiológicas

A verticalização das coligações eleitorais foi um passo à frente na higienização da política nacional. A liberação das alianças regionais para os partidos que não têm candidatos ou não se coligaram nacionalmente, um passo atrás. O caminho é longo, não prescinde de uma ampla reforma política e decisiva pressão da sociedade. Mesmo mantida a verticalização para as eleições presidenciais, ainda vemos se formarem alianças fisiológicas e brancas, ou sejam, os negros e escondidos acordos em que candidatos são cristianizados e outros apoiados por detrás do pano.

Depois de um ano de negociações, saiu a aliança entre o PT e o PL. Pelo menos já foi anunciada, num dia em que, até a derradeira hora, era dada como impossível. Falta a validação via convenções, quando as alas autênticas das duas agremiações com certeza espernearão. A chapa anunciada é Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente e José de Alencar (PL) para vice. Como alguém já disse, um casamento de jacaré com cobra d’água. Por trás dos avanços da humanidade e, particularizando, dos povos, sempre estiveram idéias. Daí a importância das ideologias que precedem e inspiram programas de governo e conquistam adeptos.

No Brasil se tem dito que as ideologias não mais importam. Que faliram. Na prática, é verdade. Uma falência resultante da falência da política e dos que a fazem. De ideológicos restavam poucos partidos. O PT, o PC do B, o PSTU à esquerda, socialistas e comunistas. O PPS, embora herdeiro do antigo PCB, perdeu seu caráter de partido marxista. Hoje acolhe até gente da direita. O PL sempre foi considerado um partido de centro. Prega o liberalismo, que é o oposto do socialismo. Imaginemos, por exemplo, o dilema estatização versus privatização.

Sempre se encontraria o PT favorável à estatização, porque socialista, e o PL em favor da privatização, porque liberal. No que respeita à economia, um é favorável à forte presença do Estado e o outro ao livre jogo da lei da oferta e da procura. E daí por diante. Entre o PT e o PL se enfileiram outras siglas de doutrinas mais variadas. Mas os dois partidos estão nas extremidades. Pois acaba de se firmar uma coligação PT-PL com vistas às próximas eleições presidenciais.

Os motivos de Lula, que lutou um ano por essa coligação, são conhecidos. Ele quer descolorir sua candidatura, apresentando-a como aceitável pelas forças de centro. O liberal que escolheu para vice em sua chapa é um senador mineiro, empresário poderoso do ramo da tecelagem. O PL, por sua vez, é um partido hoje integrado, em larga parcela, por membros de igrejas evangélicas e pentecostais, em especial os seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus, gente que tem largo poder pelo número de crentes e poder econômico.

Em busca de alianças, em geral nos Estados, também fisiológicas estão também outros candidatos. Ciro acerta na Bahia o apoio de Antônio Carlos Magalhães e parece não estar afastado, em São Paulo, o apoio de Maluf.

José Serra, um social-democrata, obteve coligação do seu PSDB com o PMDB. Aí não há nenhuma incompatibilidade, salvo o fato de o PSDB ter nascido como uma dissidência do PMDB por divergências que, agora esquecidas, permitiram a convergência. Mas reivindica também o apoio do PFL, que, embora ex-aliado de FHC, está bem mais à direita. Oxalá, com essas alianças fisiológicas, os eleitos consigam oferecer governabilidade ao País.

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