Com a eleição de Lula e a ascensão do PT ao poder, teoricamente as esquerdas chegaram ao comando do País. O governo Lula acabou sendo formado por uma coalizão de partidos que o descaracterizaram ideologicamente. Não se há de imaginar que um Partido Liberal seja de esquerda. Nem outras agremiações que total ou em fatias passaram a compor as forças situacionistas. O governo é híbrido e é tão ou mais neoliberal que o anterior, de FHC. Lula e parte do PT agiram com pragmatismo. Diante da impossibilidade de instalar um governo socialista, contrariando assim todas as estruturas políticas, administrativas e econômicas do Brasil e até mesmo os desejos do eleitorado, preferiram seguir caminhos capitalistas e políticas econômicas mais ortodoxas e mais palatáveis para o nosso quadro interno e para a posição brasileira no concerto das nações.
Ficaram alguns trejeitos esquerdistas. Alguns dos escândalos que abalaram o governo evidenciaram a falta de uma distinção clara entre o que é público e o que é privado. Não poucas vezes nem em quantias pequenas, o dinheiro e bens de particulares foram confundidos com propriedade governamental, resultando em apropriações indébitas, negociatas e outros escândalos, que em sua ótica socialista muitos dos que participam do governo sequer ruborizaram. Mesmo sendo neoliberal na economia e em políticas sociais, uma social democracia não muito diferente do que a do governo do PSDB, a atual administração e as forças que a apóiam vêm se confundindo com muita freqüência. Não se distinguem bem o PT, outros partidos situacionistas, o governo e mesmo entidades que são inspiradas pelo ideário socialista.
Um exemplo disto aparece agora, gritante e reclamando providências imediatas, urgentes e enérgicas. A Câmara dos Deputados foi invadida por uma horda de membros do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST). Trata-se de um movimento dito social presidido por Bruno Maranhão, um engenheiro pernambucano de extrema esquerda, que era um dos dirigentes nacionais do PT. A invasão foi premeditada. Houve violência, destruição de bens públicos e agressões físicas contra funcionários. Esse mesmo movimento já havia invadido o Ministério da Fazenda. Suas ligações com o PT e com o governo ficaram evidentes, embora se saiba que o alvo original da invasão era o Palácio do Planalto e não a Câmara.
Além de sua posição no diretório nacional do PT, Maranhão foi recebido repetidas vezes no Palácio do Planalto pelo presidente Lula, uma delas logo após a invasão do Ministério da Fazenda. Não pára aí a confusão entre o que é movimento social, revolucionário, governo, bens públicos e entidades privadas. Descobriu-se que o governo federal doou R$ 5,6 milhões a uma ONG, a Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária e que esse dinheiro, ou parte dele, financiou a invasão da Câmara. Agora revela-se que a paranaense Gladis Rossi, secretária nacional do MLST e ligada ao diretório paranaense do PT, reside com sua família na sede da Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária (Anara), nas proximidades de Brasília. Caminha-se para a conclusão de que PT, MLST, Anara, fazem parte de um mesmo movimento de esquerda que trabalha com o dinheiro do governo para tentar destruir o próprio governo. É hora de separar alhos de bugalhos.