O vice-presidente da República, José Alencar, voltou a atacar a política de juros e a política econômica, no discurso do seminário sobre "Alternativas da Política Econômica" promovido pelo PSB, seu novo partido, depois de deixar o PL. Alencar reconheceu, porém, que muitas das medidas duras tomadas precisaram ser adotadas, para que houvesse uma sinalização de que o governo é responsável.
"A dose foi cavalar porque a desconfiança era cavalar", disse Alencar referindo-se à desconfiança de setores com relação ao governo do PT. "Isso explica o pacto com o diabo", acrescentou o vice-presidente, que depois não quis revelar a quem estava se referindo. "O diabo é sobrenatural", disse aos jornalistas.
Ainda em seu discurso, José Alencar disse que as mudanças necessárias não foram realizadas, mas que ainda há tempo para fazê-las. "Nosso discurso de campanha não assumiu o poder. É circunstancial e precisamos agora ouvir a razão. Há tempo e não é para agir com irresponsabilidade", disse o vice-presidente, que foi bastante aplaudido.
"Os juros são estratosféricos, despropositados, dez vezes maior que no resto do mundo. É preciso que se ouça o povo para criar condições que sejam consenso nacional e o consenso é de que é preciso valorizar a atividade produtiva do país", defendeu. "Estamos dentro de um ano eleitoral. Dez, onze meses das próximas eleições. É preciso que nos despertemos para isso", alertou Alencar, referindo-se à necessidade de crescimento na economia do País. "O Brasil tem terras agricultáveis, tem riquezas, é um absurdo perder tanto tempo", criticou.
"Precisamos lembrar o que é a economia. A economia real é representada pela agricultura, pecuária, mineração, comércio, indústria e infra-estrutura. Economia não é bolsa de valores, não é Banco Central, não é Ministério da Fazenda e não é Ministério do Planejamento. Esses ministérios são instrumentos que devem existir para fortalecer a economia. Não estamos nos lembrando disso e isso é elementar. Estamos voltados para questões menores da economia e usando taxa de juros como instrumento para combate a inflação. Isso virou lei", acrescentou Alencar. Ele destacou também que 30% da inflação vem dos preços administrados. "Não podia ser assim. As agências reguladoras é que deveriam levar ao aumento ou redução das tarifas e não a indexação, como foi acertada nos contratos", afirmou. "Está errado e tem que mudar".
José Alencar defendeu ainda que é preciso rever o perfil do consumidor. "Não tem como diminuir o consumo de quem não consome e tem uma esmagadora minoria de quem não consome", disse, acrescentando que a miséria no País é tamanha que quem recebe o Bolsa Família "que é uma coisa de nada", é visto como privilegiado.