O vice-presidente José Alencar afirmou nesta terça-feira (12) que está "encerrado" o capítulo sobre o regime militar brasileiro (1964-1985). Em entrevista no Palácio do Planalto, ele afirmou "lamentar" pelas mortes de adversários da ditadura, especialmente jovens de Minas Gerais que estão na lista dos desaparecidos, mas se posicionou contra o julgamento de criminosos que estão na reserva das Forças Armadas.
Na entrevista, Alencar se posicionou contra a punição aos que mataram nos anos seguintes ao golpe de 1964. "Olha, isso é uma questão que pode ser levantada", disse. "Na democracia tudo pode ser levantado e pode ser discutido", completou. "Agora, eu digo para você que, a coisa no Brasil, pela nossa tradição e cultura, foi encerrada.
A uma afirmação de um repórter sobre jovens que tinham sido mortos por se oporem ao regime, Alencar foi lacônico: "Eu sei. Lamento." Ele também evitou comentar sobre os arquivos em poder das Forças Armadas, que podem ajudar a localizar os corpos dos desaparecidos políticos e explicar melhor o que ocorreu nos porões do regime. "A história do Brasil merece que todos nós nos imbuamos do propósito de fazer este País cada vez melhor para os jovens que estão chegando aí.
Pinochet
Alencar, no entanto, não economizou palavras para repudiar outro regime sangrento, o de Augusto Pinochet, no Chile, de 1973 a 1990. "Lá no Chile tem uma divisão. Nós, que somos democratas, abominamos o que foi feito pelo Pinochet, a quebra dos direitos políticos", afirmou.
Embora tenha ex-guerrilheiros no primeiro escalão, como a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo Lula atendeu ao pedido das Forças Armadas de manter trancados os arquivos da ditadura. A divulgação dos documentos é considerada por analistas como necessária para consolidação do regime democrático.
No domingo, o Planalto chegou a divulgar nota dura contra o regime Pinochet. "O general Augusto Pinochet simbolizou um período sombrio na História da América do Sul. Foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, apagadas por golpes autoritários", destacou a nota. Sobre a ditadura dos generais brasileiros, no entanto, o Planalto mantém o silêncio desde o governo José Sarney, passando por Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.