As Forças Armadas estão "rigorosamente tranqüilas" com relação à abertura dos arquivos sobre a Guerrilha do Araguaia e a investigação em torno da queima de documentos do período militar e da fase democrática na Base Aérea de Salvador (Basa). A declaração foi feita hoje pelo vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, no Quartel-General do Exército. Alencar admitiu que o conflito no Araguaia, ocorrido entre 1972 e 1975, foi uma verdadeira "guerra" no País. Mas reiterou que a apuração da denúncia de eliminação de arquivos na capital baiana e eventuais casos semelhantes serão examinados de acordo com a lei.
"Fora da lei, não há salvação", afirmou, ao lado do comandante do Exército, Francisco Roberto Albuquerque, com quem participou da entrega da medalha da Ordem do Mérito Militar ao senador Romeu Tuma (PFL-SP).
Ontem, o Comando da Aeronáutica abriu um inquérito policial-militar (IPM) para investigar a denúncia de queima de arquivos referentes ao período de 1964 a 1994, a céu aberto, na Basa. Em princípio, como informou a Força Aérea Brasileira (FAB) ontem, os documentos encontrados não faziam referência à guerrilha.
Alencar evitou reiterar a hipótese de que a denúncia teria sido uma "armação" – uma iniciativa com o objetivo de responsabilizar a FAB por um ato que nenhum dos militares teria cometido. Mas completou que a maneira como esses papéis foram encontrados é um dos esclarecimentos que se fazem necessários.
"Não temos condições de fazer conjecturas", declarou. "Se houver casos semelhantes, todos serão objeto de inquéritos policiais-militares. Vamos investigar tudo com rigor. Temos de saber quando foi (que ocorreu uma eventual eliminação de arquivos), quem foram (os autores), por que foi (determinada a ação) e por ordem de quem", completou.
De acordo com o ministro da Defesa, a iniciativa da FAB de abrir o inquérito foi uma demonstração do interesse em "dar transparência" ao episódio. No caso específico da Guerrilha do Araguaia, Alencar lembrou que se trata de um dos episódios da história do Brasil que ainda deve ser elucidado e que historiadores "sérios" precisam ter acesso aos documentos relativos.
A abertura dos arquivos sobre a guerrilha foi decidida pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da primeira região, em novembro. O TRF também determinou que ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a apresentassem, em 15 dias os procedimentos para a abertura dos arquivos – medida bloqueada pela administração federal por meio de um salvo-conduto.