O Banco Central Europeu (BCE) e a Alemanha estão travando um debate público sobre a crise da Grécia. Enquanto o governo alemão defende a participação de credores privados no pacote de ajuda a Atenas, o BCE se opõe fortemente a mudanças no perfil da dívida.

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Essa é mais uma das incertezas que rondam a Grécia no momento. Além do embate das autoridades, internamente a situação política é delicada e o governo não consegue convencer a oposição e a população sobre a necessidade de mais medidas de austeridade. Apesar da maioria de seis assentos no parlamento, a aprovação das medidas é complicada porque a própria base governista mostra resistência.

“A briga entre o BCE e a Alemanha está sendo travada neste momento e precisamos de uma solução rápida”, disse Lee Buchheit, sócio do escritório Cleary Gottlieb Steen & Hamilton.

De fato, enquanto especialistas se reuniam em evento da Emerging Markets Trading Association (EMTA) para debater o caso da Grécia, os mercados repercutiam as afirmações do presidente Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, expressando resistência a qualquer reestruturação da dívida que não seja voluntária.

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Acordo

“É importante que se consiga um acordo sobre o assunto, pois as afirmações do BCE não ajudam”, disse Robert Gray, vice-presidente da International Capital Market Association (ICMA).

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Para Buchheit, a Alemanha tem duas motivações para buscar a participação do credor privado. A primeira é política, porque a população alemã se opõe a mais ajuda financeira à Grécia, já que até agora a conta ficou toda nas costas dos governos e dos contribuintes. Além disso, na avaliação dele, a Alemanha também sabe que o perfil do endividamento grego é insustentável e uma reestruturação terá de ser feita em algum momento. Já o BCE está preocupado não apenas com a exposição dos bancos europeus, mas com a própria exposição aos títulos gregos, acredita Gray.

Os especialistas reunidos ontem em Londres acreditam que a Grécia caminha para um alongamento negociado de sua dívida – o evento realizado ontem em Londres era exatamente para debater o tema e traçar paralelos com os problemas de dívidas já enfrentados por emergentes.

Foi lembrado, por exemplo, que países em desenvolvimento estabeleceram um piso para a troca de dívidas. Em 2003, o Uruguai definiu que, se menos de 80% dos credores aderissem, poderia não haver reestruturação.

Independentemente do formato, os especialistas são unânimes em afirmar que uma potencial troca de dívidas configura default. David Riley, diretor da Fitch, reiterou que o rating dos títulos da Grécia será rebaixado para a nota C (de default) caso o país decida fazer qualquer alteração no perfil da dívida. “Reestruturação voluntária é uma fantasia burocrática”, disse Adam Lerrick, do American Enterprise Institute. “Ninguém aceita voluntariamente uma perda.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.