Alemães: Imigração selecionada fez crescer a economia do município

alemaes290305.jpgEm 1828, trazidos pelo veleiro Charlote Louise, os primeiros imigrantes alemães aportaram no Brasil. Logo fundaram a colônia de Rio Negro, no Paraná. A vinda dessas pessoas era parte do plano do governo imperial para atrair imigrantes europeus ao País. "Mas em Curitiba, a chegada desses imigrantes foi resultado de uma imigração espontânea", explica o cônsul alemão na cidade, Hans Schorer. Como alguns desses europeus não se adaptavam em Rio Negro nem nas colônias de Santa Catarina, como Joinville, vieram se estabelecer na capital do Estado alguns anos depois da sua chegada.

Conforme o cônsul, a relação dos alemães com a cidade, e até mesmo com o Brasil, é muito mais antiga e profunda. Ele cita o livro A História Alemã do Brasil para afirmar que antes mesmo da célebre carta de Pero Vaz de Caminha, o primeiro documento escrito sobre o Brasil foi enviado a dom Manuel pelo alemão Johannes Varnhagen, assistente científico, astrônomo e médico da caravela de Pedro Álvares Cabral. O livro vai ainda mais longe afirmando que foi graças à navegação desse tripulante, que estabeleceu o Cruzeiro do Sul como referência para os navios chegarem ao Sul, que a esquadra portuguesa chegou às terras brasileiras.

A História Alemã do Brasil foi compilado em 2001 pelas Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. O livro fala das contribuições dos alemães e seus descendentes à formação da nação brasileira, baseado em pesquisas e documentos expostos na Expo-2000, em Hanover. Dentre essas pesquisas, uma chama atenção ao revelar que Eleodoro Ébano Pereira, o capitão de canoas de guerra que fundou Curitiba, era filho ou sobrinho de um alemão chamado Heliodor Eoban Hesse, e que seu nome era uma corruptela do antepassado. Ou seja, a cidade deve sua origem a um descendente direto dos alemães.

Imigração ?selecionada?

Um dos primeiros alemães na cidade foi Michael Müller, conhecido como Miguel Alemão. Ele participou ativamente da vida social e política da cidade. Mas foi a partir da década de 1830 que os alemães começaram a se instalar em Curitiba, sobretudo vindos da colônia Dona Francisca, em Santa Catarina. "Vieram para a cidade sobretudo profissionais liberais, médicos, advogados e comerciantes que não se adaptavam à vida de colônia", explica o cônsul.

Para Schorer, essa vinda "selecionada" fez toda a diferença para o desenvolvimento da cidade. Foram os alemães que instalaram o primeiro moinho e a primeira olaria em Curitiba. Em 1876, dos cinco médicos de Curitiba, um era alemão, assim como um dos dois farmacêuticos. De cinco botequins, os imigrantes tinham quatro. De dez engenhos de erva-mate, que era a base econômica da época, eles tinham um, o único movido a vapor. "A maioria das associações da época eram alemãs", diz Schorer. Clubes tradicionais da cidade, como o Concórdia, o Clube Rio Branco, o Duque de Caxias, o Clube Thalia e o Graciosa Country Club eram associações germânicas.

Na década de 1920, novas ondas de imigrantes alemães, fugindo dos horrores da 1.ª Guerra Mundial, chegaram à cidade, mas novamente de maneira desordenada. "Tanto é assim que Curitiba não é lembrada como uma colônia de alemães como muitas cidades catarinenses e gaúchas, mas a influência desse povo na cidade é inegável."

Folclore

"Atualmente, para as novas gerações, as tradições dos nossos antepassados já não parece ter tanta importância", afirma Valter Gerhardt. Ele é presidente do grupo folclórico germânico Alte Heimat. Fundado em 1964, é o segundo mais antigo do Brasil e o mais antigo do Paraná. O grupo, amador, também faz tudo de maneira voluntária. "Temos hoje por volta de 100 integrantes, que têm em comum os fortes sentimentos que nos ligam às nossas origens", diz Gerhardt.

Mas talvez nem todos os integrantes sejam ligados por esses sentimentos. Em tempo de globalização, segundo Gerhardt, alguns participam mais por afinidade do que por ascendência, devido as suas mais diferentes origens. "Temos até orientais no grupo", diz. Sem fazer distinção de onde cada um veio, o Alte Heimat, que em português quer dizer "minha pátria", mantém vivo um repertório formado por danças e canções da Alemanha, Áustria e Suíça. "Realizamos pesquisas em livros e fazemos intercâmbio com grupos originários destes países. Nossos trajes, originários de diversas regiões da Germânia, são confeccionados no Brasil com base nesses estudos. O repertório é composto por mais de 600 danças, todas comprovadamente originais", orgulha-se Gerhardt.

Para tentar despertar o interesse dos pequenos descendentes, o grupo dá aulas de danças folclóricas no Colégio Martinus. "Começamos com crianças a partir dos dois anos", diz o presidente. O Alte Heimat se apresentou na inauguração do Teatro Guaíra e participa todos os anos do Festival Folclórico do Paraná, que esse ano chega à 44.ª edição.

Hachepeter ou carne de onça

"Para acompanhar o tradicional chopp, o que pessoal do clube sempre pede é a carne de onça", explica Rodrigo Martins da Silva, gerente do restaurante Confraria do Chef. O estabelecimento fica dentro do Clube Concórdia, tradicional refúgio dos descendentes alemães na cidade. Silva não é descendente e se esforça para pronunciar o nome dos pratos. "A carne de onça na verdade é chamada de hachepeter", ensina.

O prato, feito a partir de carne moída crua, na verdade foi inventado pelo povo tártaro e se espalhou pela Ásia. Da lá para a Europa foi um pulo. No velho continente a receita caiu no gosto dos alemães e foi por meio deles que a hachepeter chegou ao Brasil. "Cada lugar tem sua maneira de temperar e de servir o prato. Mas aqui na Confraria é o único lugar onde a carne de onça é preparada na frente do cliente", diz Silva. O restaurante ainda oferece outras receitas típicas trazidas à cidade pelos imigrantes alemães. "Outros pratos bastante elogiados são o marreco com repolho roxo e o Knakcwurst (salsichão branco e vermelho, batata cozida, mostarda escura e raiz forte".

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