O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, afirmou hoje em Buenos Aires que a decisão da Bolívia de nacionalizar as reservas de gás e o petróleo no país não ameaça o projeto de integração da América do Sul.
"Não será o surgimento de um contencioso circunstancial, menor, que comprometerá o nosso projeto comum. A cooperação não gera apenas alegrias. Gera também problemas que precisam ser administrados com regras claras", afirmou durante entrevista à imprensa na Embaixada do Brasil na Argentina.
Aldo lembrou que o Brasil é um país amigo e precisa da manifestação de reciprocidade da Bolívia. "O Brasil não pode aceitar a retórica de que tem uma posição contrária ao desenvolvimento da Bolívia, quando tem posição de apoio ao seu desenvolvimento", afirmou.
Amizade e respeito
Aldo ressaltou que o Brasil, pelo fato de sempre haver tratado a Bolívia com amizade e respeito, não aceita receber um tratamento de adversário dos interesses, do progresso e da soberania do país vizinho.
"O Brasil deve rejeitar e condenar o debate de episódios já historicamente superados, como a incorporação do Acre", afirmou. Ele referiu-se ao fato de o presidente boliviano Evo Morales ter declarado, na última quinta-feira (11), que o Brasil adquiriu da Bolívia "em troca de cavalos", em 1930, o território onde hoje fica o Acre. (Na verdade, o Brasil pagou uma quantia que hoje seria equivalente a R$ 2,5 bilhões).
Aldo também rebateu a acusação de Morales de que a Petrobras teria agido "fora das leis" em território boliviano. "Essa é uma retórica que o Brasil deve rejeitar e condenar, pois fere as relações entre os dois países. O fato é que a Petrobras, além de sempre ter agido em conformidade com as leis, está disposta permanentemente a negociar com o governo boliviano", ressaltou.
O presidente da Câmara destacou ainda que a formação de blocos de cooperação entre os países deve partir sempre de dois princípios: o do respeito à soberania e ao desenvolvimento dos países vizinhos e a preservação da nossa própria soberania e aspiração ao desenvolvimento. "Apoiamos a soberania e o esforço da Bolívia em procurar o seu desenvolvimento político, econômico e social. A América do Sul, para conhecer uma verdadeira integração, precisa de países desenvolvidos e soberanos", afirmou.
Parlamento do Mercosul
Nesta sexta-feira pela manhã, Aldo Rebelo visitou o Senado argentino e foi recebido pelo presidente da República em exercício, Daniel Osvaldo Scioli, que também é presidente do Senado e vice-presidente da República. Aldo participou da comemoração pelos 100 anos do palácio-sede do Senado.
O encontro serviu para consolidar as relações entre os parlamentos brasileiro e argentino, que agora se voltam para a aprovação da proposta do Parlamento do Mercosul.
As propostas já tramitam nos parlamentos do Paraguai e do Uruguai e o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), secretário-geral da representação brasileira na Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, lembrou a necessidade de o Brasil e a Argentina também debaterem o tema nos parlamentos brasileiros e argentinos. No Brasil, o projeto se encontra na Casa Civil.
Bloco consolidado
Ao presidente Scioli, Aldo reafirmou o interesse primordial do Brasil em consolidar o bloco do Mercosul com Argentina, Uruguai e Paraguai e ressaltou a necessidade de todos os países terem consciência das dificuldades geradas pela integração.
Para diminuir os conflitos, o bloco criaria um fundo comum, com recursos que seriam utilizados para obras de infra-estrutura na região. No Brasil, o fundo será examinado pela Comissão Mista do Mercosul na próxima quarta-feira (17). A proposta inicial é que o Brasil contribua com a maior parte dos recursos para ajudar o desenvolvimento dos demais países do bloco.