Ribeirão Preto – O preço médio do álcool hidratado teve aumento real de 20,5% nas destilarias em 2005, em comparação com 2004, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq). Na média de janeiro a dezembro do ano passado, o preço pago pelas distribuidoras aos produtores foi de R$ 0,73881 pelo litro do combustível.
De acordo com análise da instituição, o reajuste real do álcool anidro foi de 18% e o preço médio no ano passado de R$ 0 84159 o litro nas unidades produtoras. O anidro é misturado em 25% à gasolina vendida nos postos de combustíveis.
A soma da oferta ajustada e o consumo em crescimento por causa do aumento dos veículos flex fuel – que superam 70% das vendas dos novos – justificam, de acordo com a avaliação do Cepea/Esalq, o reajuste nos preços do etanol. Só em dezembro, o valor do litro hidratado, de acordo com a instituição, foi 20,9% maior do que em dezembro de 2004, em termos reais, e 15,8% maior ante novembro de 2005. O indicador Cepea/Esalq médio fechou o mês passado em R$ 0,94724 para o litro do hidratado.
Na última semana do ano, no entanto, preço do combustível pago pelas usinas, sem impostos, chegou a R$ 1 00732/litro, alta de 1,53% em relação à semana anterior. Já o preço médio do anidro em dezembro foi de R$ 1,05325/litro, alta real de 14,7% ante dezembro de 2004 e aumento de 13,4% frente a novembro passado.
Para o presidente da corretora Bioagência, Tarcilo Ricardo Rodrigues, o aumento no preço do álcool em 2005 é decorrência de "uma nova ordem mundial no mercado da energia e da agroenergia", com fortes altas nos preços do petróleo e, principalmente, no preço mundial do açúcar. "Antes, o açúcar oscilava entre 6 e 8 cents (por libra-peso) e agora o patamar é de 14 a 16 cents no mercado mundial", disse Rodrigues. "Agora chega a entressafra (da cana-de-açúcar no Brasil) e acontece esse estresse todo em relação ao álcool."
A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) principal entidade do setor produtivo no País, aponta a quebra na produção de cana-de-açúcar e a conseqüente redução na oferta dos seus derivados como outros fatores que contribuíram para o aumento no preço do álcool.
De acordo com o diretor-técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, de uma estimativa inicial de 345 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas na recém-encerrada safra 2005/2006 no Centro-Sul do Brasil, a moagem final deverá ficar entre 335 milhões e 340 milhões de toneladas. A produção de álcool na região deve ter uma redução de 700 a 800 milhões de litros em relação à previsão inicial, de 15,1 bilhões de litros, feita pela própria entidade. Assim como ocorreu com culturas de grãos, a quebra na safra de cana deve-se à redução na produção no Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que atingiu 20%, de acordo com Rodrigues.
Os dados finais da safra devem ser divulgados até o fim desta quinzena, já que pequenas unidades sucroalcooleiras no Rio de Janeiro e no Espírito Santo ainda estavam moendo. Segundo o diretor da Unica, até março, quando começa o processamento da safra 2006/2007 no Centro-Sul, a oferta deve continuar restrita, mas o consumo, que normalmente cai em janeiro e fevereiro, deve retroceder ainda mais, justamente em virtude das altas recentes aos consumidores. Mesmo assim, a produção de álcool na região entre março e 1º de maio, quando oficialmente começa a próxima safra, deve superar 800 milhões de litros, na avaliação de Rodrigues, ante 620 milhões de litros no mesmo período de 2005.
