Diante do fogo amigo de todos os candidatos à presidência do PT, que ao participarem de debate, ontem, não pouparam críticas à política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva, coube hoje (17) ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), da oposição, defender algumas das bases da economia do País: o aperto fiscal e a política monetária direcionada ao controle da inflação. Ele recusou, entretanto, a acusação de petistas de que o Ministério da Fazenda ainda conta com presença maciça de tucanos, oriundos da gestão passada, de Fernando Henrique Cardoso.
"Tucano não tem nenhum lá no governo. O que o governo fez de bom foi dar seqüência à responsabilidade fiscal, que foi instituída pelo governo do PSDB com a Lei de Responsabilidade Fiscal e que hoje é uma conquista da sociedade", afirmou Alckmin após participar de evento de incentivo à doação de sangue, organizado pela Igreja Adventista, no Ginásio do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista. "Isso é uma prova de amadurecimento, quando um trabalho de um partido passa a ser de todos. Isso é bom e coisa boa não é para ser mudada", acrescentou.
Alckmin avalia que a política econômica está resistindo a essa crise política porque a vida brasileira está "num outro patamar". "O Brasil aprendeu a controlar inflação e a política monetária é uma conquista. O País tem câmbio livre, outra conquista. O passado está se mantendo".
O governador observou que não existe no mundo nenhuma experiência de país que tenha obtido desenvolvimento sustentado, ao longo do tempo, sem exercer responsabilidade fiscal. Mas, no caso brasileiro, segundo ele, ainda insuficiente para garantir crescimento econômico de longo prazo. Ele responsabiliza o PT por isso. "O PT perdeu todas as oportunidades. Estamos andando de lado no momento em que era para estar com o pé no acelerador, pois o mundo está num crescimento fortíssimo", apontou o governador paulista.
Eleição
Alegando que "em festa de jacu o inhambu não pia", Alckmin não quis comentar as eleições de amanhã no PT. Mas indiretamente, traçou um paralelo entre o pleito dos petistas e o do PSDB, a ser enfrentado no fim de novembro. "O PSDB não tem tido uma tradição de disputa. Quem sempre procura representar o partido são as várias lideranças. Isso porque o PSDB não tem dono, um coronel, mas bons quadros, o que é bom para o Brasil e para a democracia", afirmou.
Ele citou também o sociólogo francês Padre Joseph Lebret que, segundo Alckmin, dizia: "Todos nós da vida pública, na política, devemos ser um zé-ninguém a serviço de uma grande causa. Por mais legítimas que sejam as aspirações, elas devem se subordinar a uma causa maior. Nós somos instrumentos do povo, para servir a população. Pode ter disputa, as aspirações são legítimas, mas precisam estar sempre subordinadas à causa maior, que é ser um instrumento a serviço da população", avaliou.
De acordo com Alckmin, a escolha do futuro nome a presidir a legenda deverá ser "fruto de entendimento". "A minha chapa é a da unidade e temos que trabalhar para termos um diretório que represente a unidade partidária", declarou, sem manifestar apoio a ninguém. Apenas reconheceu, como em outras oportunidades, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é "hors-concours, um grande amálgama, um elo de unidade partidária".