A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) teve as tratativas de implantação interrompidas no ano passado, tal era a proporção da hegemonia que se desenhava em relação aos Estados Unidos, não por acaso a economia que maior ênfase atribuía à formação de um mercado cativo abrangendo todos os países da América Latina, com exceção de Cuba.
Não poucos países mostraram-se reticentes à formação do bloco, dentre eles Brasil, Argentina e Venezuela, pela óbvia razão de que o comércio norte-americano, por sua natureza tentacular, ficaria ainda mais fortalecido e ampliaria a faixa de domínio sobre mercados de países pobres ou em desenvolvimento, com a elevação do volume de compras externas de seus produtos.
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, revela que caso a Alca tivesse entrado em funcionamento – nos moldes estabelecidos -, o Brasil poderia aumentar em US$ 1,2 bilhão suas vendas para os Estados Unidos, mas mesmo assim sofreria perdas avaliadas em US$ 1 bilhão, porque as importações aumentariam cerca de US$ 2,2 bilhões.
Sem entrar no mérito político da questão, o estudo do Ipea, desenvolvido pelos pesquisadores Honório Kume e Guida Piani, não tira as razões daqueles que julgavam (e julgam) ser a Alca um mau negócio para as economias periféricas e, portanto, dependentes, do país situado acima do Rio Grande.
Uma das principais constatações do estudo não esconde que a variação entre exportações e importações brasileiras em relação aos Estados Unidos poderá ser ainda mais expressiva, porque não há a mínima garantia da retirada das barreiras não tarifárias de muitos produtos agrícolas, fato que somente se tornaria real com a aprovação do Congresso norte-americano.
Como o governo Bush, certamente flanqueado por descomunal força lobista, até agora não mostrou a mais leve tendência de rever alguns itens que tornaram hegemônico o comércio mundial do país, as barreiras tarifárias e não tarifárias, não há como imaginar que economias instáveis da maioria dos países latino-americanos poderiam obter benefícios em sua relação comercial com um parceiro que suga muitíssimo mais do que oferece em troca.