O Itamaraty está pronto para retomar as negociações com vistas à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), disse hoje o diretor do Departamento de Alca, Tovar Nunes. “Estamos de plantão, aguardando alguma manifestação dos Estados Unidos”, informou, ressaltando que falava como negociador. O principal representante do Brasil na Alca é o embaixador Ademar Bahadian, atual co-presidente do bloco, ao lado do americano Peter Allgeier.

O embaixador americano no Brasil, John Danilovich, disse ontem que as conversas devem ser retomadas ainda neste ano, agora que os processos eleitorais no Brasil e nos EUA terminaram. Ele ressalvou, porém, que o prazo para a conclusão das negociações, janeiro de 2005, é “irrealista”. Na sua avaliação, as negociações poderão levar mais cerca de seis meses ou “o tempo necessário para se chegar a um bom acordo.” Segundo o embaixador, o livre comércio é um alicerce das políticas dos dois países e a Alca seria um importante elemento de estabilização econômica na América Latina.

As negociações estão interrompidas desde fevereiro deste ano, após o fracasso da reunião realizada em Puebla, no México. Naquela ocasião, os 34 países componentes do bloco se dividiram quanto à abrangência do acordo, ou seja, se ele envolveria a liberalização no comércio de todos os produtos ou apenas em parte “substancial” do comércio. Ainda houve algumas tentativas de retomar as conversas em maio, mas essas fracassaram quando os Estados Unidos deixaram claro que não aceitariam a eliminação de tarifas no comércio de uma série de produtos agrícolas.

Agora, na avaliação do Itamaraty, cabe aos EUA tomar a iniciativa de retomar as conversas. Tovar Nunes informou que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, enviou três correspondências ao governo norte-americano entre março e junho deste ano informando que o Brasil estava disposto a continuar negociando.

Um ponto que o Mercosul não abre mão é o de ter, no texto do acordo, uma cláusula prevendo algum tipo de compensação para anular efeitos de subsídios pagos à agricultura. “Depois, essa questão pode ser disciplinada na Organização Mundial do Comércio, mas é preciso ter algum tipo de compromisso para não ficarmos na incerteza quanto ao uso do subsídio”, afirmou Nunes.

O rumo das negociações, porém, dependerá de algumas definições, a começar pela permanência ou não do atual representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick, no cargo. Também as negociações na OMC lançam incertezas sobre o alcance que o acordo deve ter.
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