Todos são exemplos do que as companhias seguradoras não cobrem em suas apólices e dos raros momentos em que a solidariedade humana substitui a alienação cotidiana na tentativa de amenizar perdas, danos e dores do próximo. São manifestações honestas, sinceras, voluntárias e anônimas que renovam a esperança na espécie humana.
É verdade que existem pessoas que não esperam que uma tragédia ocorra para prestar ajuda humanitária – elas são imprescindíveis! -, mas em certos momentos, por maior que sejam o empenho e boa-vontade, elas não são suficientes. Sua experiência e denodo assumem, então, o papel de coordenação. Assim, ajudam a superar, com risco pessoal e nenhum benefício financeiro, tanto o desastre imponderável como as conseqüências da estupidez dos conflitos bélicos. Elas têm tido muito trabalho ultimamente!
Sua tarefa poderia ser aliviada se a ajuda humanitária e o desenvolvimento das nações fossem contínuos e conduzissem à dignidade dos povos. Infelizmente, é preciso que ocorra uma comoção: natural ou provocada, para que o mundo desperte de sua letargia, da inércia social ou da alienação narcótica ou financeira e perceba que todos estamos sujeitos a situações semelhantes. Todos podemos precisar, um dia, de uma mão estendida. Infelizmente, existem pessoas que tiram proveito dessas situações para obter lucro. Não bastassem os saqueadores, que assaltam as cidades em meio a tragédias, há os que tiram proveito delas, com mercados negros e tráfico de influências. Temperam o desespero com sadismo.
Mas há uma espécie de “ajuda humanitária” cujos reais interesses passam, quase sempre, despercebidos: é a prestada por quem destrói já pensando no lucro da reconstrução. Estou falando, obviamente, das guerras modernas. Sua lógica perversa proporciona vantagens adicionais para quem vive da destruição, pois ao mesmo tempo em que aplaina os terrenos com toneladas de bombas, já prepara o leilão dos despojos que custearão a recomposição das construções. Os conflitos nem começam, mas os contratos já estão sendo negociados. Um bom negócio!
Não há dinheiro para combater a fome, a sede e a miséria no mundo; mas os orçamentos das potências exorbitam em verbas para aprimorar a destruição de estradas, fábricas, cidades e países. O agressor não planeja apenas o conflito: começa a matar antes, com boicotes; projeta e prepara a realização dos lucros da vitória, o aquecimento de mercados e a valorização das bolsas. Como argumento atenuante promete melhoria da qualidade de vida para os vencidos. Só que o “milagre” do ressurgimento de cidades e países não traz vidas de volta, não reconstrói famílias, nem resgata a dignidade das vítimas inocentes. Vítimas? Isso é um mero detalhe. Afinal, toda a “obra” tem perdas…
A verdadeira ajuda humanitária não tem bandeira, conotação política ou ideológica nem visa lucro. Tirar a capacidade de auto-sustento, a saúde e a vida de entes queridos para depois oferecer pão e remédio não é um gesto magnânimo ou solidário: é submissão degradante. É desumanidade!
Os governantes precisam aprender com o povo o verdadeiro sentido da solidariedade e da prática do bem sem pré-requisitos, condições ou vantagens. No dia em que isso ocorrer haverá menos motivos para conflitos e mais condições para o entendimento e cooperação entre as nações! Aí, quem sabe, em vez de desejarem e buscarem a destruição mútua, passem a construir juntos uma nova, pacífica e duradoura ordem mundial, onde a estupidez humana não seja mais motivo de ajudas humanitárias.
Adilson Luiz Gonçalves
é engenheiro, professor universitário e articulista. E-mail: algbr@ig.com.br