No início deste mês, o Diálogo Americano, um centro de reflexão de Washington, discutiu as relações dos Estados Unidos com a América Latina, em especial no campo econômico. Seu presidente, Peter Hakin, constatava que o 11 de setembro, o trágico dia do atentado contra o World Trade Center, colocou por terra as promessas de Bush, que anunciara que este seria “o século para as Américas”. “Esperemos e vejamos. Ainda é muito cedo para dizer que haverá mudança”, disse Peter Hakin. Na questão financeira, “ainda estamos no limbo”.

“O Brasil será o verdadeiro orientador de qual será a política financeira do governo de Bush” para a América Latina, declarou Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, outra instituição de estudos dos Estados Unidos. No mesmo debate, John Williamson, técnico do Instituto de Economia Internacional, acrescentava: “Ainda não está claro se a administração americana adotou um papel ativo nesta crise”. Até o momento, o governo norte-americano limitou-se a fazer econômicas declarações de confiança no Brasil. Nada de concreto. Mas, se considerarmos o que veio do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e agora as promessas de dezesseis grandes bancos do mundo feitas ao ministro Malan e ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga, como sinais de uma definição de posicionamento sobre o Brasil e a América Latina, as conclusões serão altamente positivas.

Antes de mais nada, é bom que se diga que as decisões do FMI, do BID e do Bird e ainda dos dezesseis bancos comerciais privados não são decisões do governo dos Estados Unidos. Mas é lícito concluir que também não são decisões contrárias à sua posição. Antes, seriam ações consonantes com a vontade do governo Bush. Ou pelo menos aceitas por ele. Alguns órgãos de divulgação brasileiros, principalmente uma grande rede de televisão, dificultaram o entendimento do que Malan e Fraga buscaram e conquistaram em Washington. Falaram em manutenção dos investimentos dos bancos norte-americanos. Na verdade, o que se foi buscar e foi conseguido foi o compromisso de reabertura das linhas de crédito para empresas privadas brasileiras, a fim de que possam continuar a exportar, gerando divisas, lucros e empregos. As turbulências no mercado haviam fechado as linhas de crédito às empresas exportadoras. Estas tiveram que comprar a qualquer preço dólares no mercado, elevando suas cotações. Outras, paralisaram suas exportações, justamente quando delas mais precisamos. Reabertas as linhas de crédito, aliviam-se essas empresas exportadoras brasileiras. Talvez a promessa dos dezesseis bancos signifique, também, a manutenção, em certa medida e de forma cautelosa, de títulos brasileiros, públicos e privados, nas carteiras daqueles estabelecimentos.

A conquista de Malan e Fraga tem significado especial quando foi conseguido um expressivo acordo com o FMI e o governo, no desespero, já vinha pondo a mão em reservas cambiais, dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para socorrer as empresas brasileiras que perderam o crédito. Nem tudo está resolvido, mas provou-se que também nem tudo está perdido. A transição no governo com certeza poderá ser mais tranqüila.

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