As reduções de tributos anunciadas pelo governo significam que o País já pode estar engatinhando. Mas ainda muito longe de caminhar pelas próprias pernas. A notícia é boa, embora não seja imparcial e irrestrita. A parte do leão ainda é a maior, há um frágil mercado de capitais e uma mentalidade arraigada de que tudo deve ser resolvido pelo governo. E o pior é que, por assim ter sido ensinado ao longo de tantos anos, o povo tende a acreditar que esse é o caminho certo. O fiscalismo do governo está se tornando insustentável. Dá com uma mão, mas tira com a outra. Nada se oferece à sociedade, de benefício, que não tenha um correspondente aumento de impostos.

A política de entesouramento, que permite repetir de boca cheia, mês a mês, que a arrecadação bateu novo recorde, significa um controle fiscal objetivando a produção de superávites para pagar as dívidas interna e externa. Talvez ensaio do sonho de um dia o Brasil poder dispensar os empréstimos, sejam internos ou externos, e caminhar com o próprio dinheiro. Miragem, porque nenhum país consegue isso. O mundo é global e os países interdependentes. Sempre haverá um mercado internacional de dinheiro, seja para investimentos diretos, seja para empréstimos e também para especulação. A maturidade deve ser perseguida, mas ela significa podermos montar um perfil adequado da dívida, seja no seu custo, seja no prazos para pagar. Isso nem sempre aconteceu e, por muitas vezes, ficamos afogados num gargalo em que parecia que não seria possível pagá-la ou só seria possível privando os brasileiros de suas necessidades essenciais.

Essa situação estivemos vivendo nesta primeira parte do governo Lula e, mesmo retirando da produção, do desenvolvimento econômico, os recursos de que necessitamos para termos, se não “o milagre do desenvolvimento”, pelo menos evitar a estagnação ou a recessão, ainda assim a dívida externa não diminuiu.

Alguns passos mais recentes do governo confirmam que estamos gatinhando, sem nenhuma certeza de que amanhã estaremos caminhando pelas próprias pernas. Os juros básicos entraram numa rota descendente, embora tenham parado nos 16% e o mercado não espere que, até o fim do ano, sofra nova queda. Há fundados medos de volta da inflação.

Em setores do governo há sinais de que se está deixando de demonizar o mercado de capitais e financeiro, pois para o nosso governo e para nós o investidor sempre pareceu um explorador; e o captador, um vigarista que vive do dinheiro dos outros. Nunca atentamos para o fato de que é assim que o mundo funciona e que há um mercado de dinheiro que transforma o capitalismo em popular. Ele permite que qualquer um, inclusive um operário, seja sócio proprietário de uma pequena parte de uma grande empresa. Inclusive aquela em que trabalha. E, ainda, que esse mercado é a principal fonte de financiamento, e não os papagaios que empinamos mundo afora.

Mas agora o governo, pela primeira vez, ao invés de aumentar impostos, os reduz. Com comedimento, por setores, mas em especial no caso de bens de capital, beneficiando um setor do qual precisamos para o “milagre do desenvolvimento”. Hoje estamos certos de que não teremos o milagre, mas oxalá haja pelo menos uma mandinga que nos leve um pouco para a frente.

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