Aids: transmissão entre homossexuais apresenta redução significativa

No Brasil, 63,8% dos casos de aids diagnosticados entre 1980 e 2003 foram transmitidos por via sexual. Desde a década de 90, o maior número de casos ocorre entre os heterossexuais. Em 2003, o sexo com mulheres foi responsável por 39,6% das infecções em homens com 13 anos ou mais, contra 16,2% dos casos masculinos, em 1992.

Os dados fazem parte da 17ª edição do Boletim Epidemiológico Aids, do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids) do Ministério da Saúde. O documento revela os casos diagnosticados em todo o país até dezembro de 2003.

Enquanto a epidemia cresce entre os heterossexuais, a transmissão de aids entre os homossexuais tem apresentado significativa redução. Em 1992, a relação sexual com pessoa do mesmo sexo foi responsável por 25,2% dos casos diagnosticados. Em 2003, esse índice caiu para 15,9%.

O boletim epidemiológico também mostra que existe falha na investigação dos novos casos de aids. Nos últimos cinco anos, o percentual de forma de contaminação ignorada ultrapassa 20%.

O contágio por relação heterossexual também é a principal causa de transmissão da doença entre as mulheres de 13 anos ou mais. Se entre os homens essa é a forma de transmissão em 57,8% dos diagnósticos, entre as mulheres o sexo responde por 86,9% da forma de contágio. De acordo com o boletim epidemiológico, a transmissão heterossexual vem aumentando entre as mulheres: de 70,7% do total de casos nesta faixa etária em 1992 para 93,5% em 2003.

A advogada Maria Beatriz Pacheco, 56 anos, faz parte dessa estatística há mais de sete anos. Casada, ela nunca imaginou que corria risco de se contaminar e, por isso, não usava preservativo. "O perfil que eu tinha da pessoa que pode pegar o HIV era aquela idéia errada da pessoa promíscua, usuária de droga, marginal", afirma Maria Beatriz. Seu marido, que morreu sem saber que era portador do HIV, fazia transfusões de sangue constantes como parte do tratamento de cirrose hepática.

Na época, o contágio por transfusão era comum já que o controle de qualidade do sangue e seus derivados em relação à aids não era tão rigoroso como hoje. Em 1992, a transmissão por sangue contaminado em transfusões respondia por 9,2% dos casos notificados. Em 2002, nenhum caso foi registrado por essa forma de contágio.

Maria Beatriz passou quase cinco anos sem saber que era portadora do vírus HIV. Depois de um ano e meio de casada, pela segunda vez, ela teve um problema de pele em decorrência do HIV. "Os médicos custaram a me diagnosticar", conta a advogada. "Isso é muito comum em mulheres, ainda mais da minha idade". Segundo ela, foi preciso passar por oito médicos que só pesquisaram a possibilidade de ela estar com câncer de pele ou leucemia até que um especialista sugerisse o teste de aids.

Hoje, Maria Beatriz continua casada e usa preservativo para evitar a transmissão ao marido. "A coisa mais difícil é falar em prevenção para parceiros fixos", avalia a advogada que faz parte da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com Aids, em Porto Alegre (RS). "É difícil para um casal poder falar de qualquer coisa que lembre a infidelidade". Maria Beatriz defende que é preciso que os casais discutam sua própria sexualidade para depois falar em prevenção.

A relação sexual é hoje a principal forma de contágio: entre 1980 e 2003, essa foi a forma de transmissão em 63,8% das notificações. O contato com sangue contaminado responde por 20,3%, e 2,9% dos casos ocorreram no perinatal.

Em 2002, foram diagnosticados 22.295 casos no Brasil, uma redução de 13,5% em relação ao ano de 2001. Entre os homens, a faixa etária mais vulnerável é a de 25 a 49 anos, na qual estão 79% dos casos da doença no sexo masculino. Já o maior número de casos entre mulheres ocorre entre os 20 e 49 anos, sendo registrados nessa faixa etária 83,4% dos casos femininos da doença.

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