O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ao Rio para um evento relacionado com a construção de navios por armadores brasileiros – um fato notável – e aproveitou para lembrar que há muita gente torcendo contra o País. No jargão de Lula, a palavra adequada para expor a idéia foi urucubaca.
O precedente mais próximo da verborragia lulista, garimpado nos apontamentos da imprensa sobre o legado cultural dos últimos presidentes, foi a ronceira expressão de Fernando Collor para definir-se como um cabra da peste, apesar de sua atração irresistível por Paris e Nova York: ?Eu tenho aquilo roxo?.
Andou perto o presidente Itamar Franco, naquele carnaval em que subiu a um palanque e a modelo que estava a seu lado deixou-se fotografar sem a peça mais íntima. Uma gafe inominável. O príncipe da sociologia também deixou sua contribuição ao reconhecer, lampeiro, uma ancestralidade que o colocava com um pé na cozinha.
O rosário de lamúrias do presidente Lula chegou agora ao máximo da entonação da filosofia de botequim. O mal do Brasil é a urucubaca, a mandinga daqueles que desejam ver a vaca atolada até as orelhas.
Não passa pelo filtro sapiencial do presidente a atuação despudorada de ex-dirigentes de seu próprio partido, algo que um petista de escol, professor Paul Singer, denominou de ?delinqüência?. A tal urucubaca não deriva da gestão financeira do PT, operada por Delúbio Soares, com os préstimos até agora não explicados de Marcos Valério Fernandes de Souza.
O memorável fracasso do PT como partido defensor da ética, cujo destino manifesto era chegar ao governo para praticar um modelo de gestão pública jamais visto em parte alguma do universo, para o presidente é mero acidente de percurso. Nada há demais, inclusive, na ação tosca e deslumbrada de Vavá, o irmão disposto a quebrar o galho de empresários a fim de se entender com o governo.
Os maus fluidos que rondam a administração são destilados pelos que invejam o sucesso presidencial (juros e carga tributária maiores do planeta, distribuição de renda pior somente em Serra Leoa e projetos sociais sacrificados para o pagamento dos juros da dívida pública).
Como no brocardo, tudo depende da cor da lente com que se olha.