O governador Jaime Lerner está magoado. Não se conforma com a condição de simples figurante no atual processo eleitoral. Pior do que isso: seus correligionários têm-lhe solicitado, ainda que indiretamente, para que permaneça à margem da campanha, isto é, quanto mais distante, melhor.
Em recente cerimônia na Associação Comercial do Paraná, JL desabafou publicamente. Não conseguiu mais segurar e pôs para fora toda a sua imensa tristeza. Disse não entender como pessoas que sempre estiveram ao seu lado, apegadinhas ao poder, desenrolando tapetes à sua passagem, possam, de repente, apresentar-se como oposicionistas e se tornem críticos ferrenhos de um governo que ajudaram a construir e sempre aplaudiram com entusiasmo. Não citou nomes, mas isso nem era preciso. Boa parte dos calabares estava ali mesmo, presente na platéia.
Que é isso, dr. Jaime? Quanta ingenuidade! Até parece que v. ex.ª não tem a quilometragem rodada que tem.
Fim de governo é assim mesmo. Todo mundo vai saindo de fino. É um, é dois, é cem – como diria Edu Lobo. Quando se repara, está todo mundo do outro lado. Ninguém quer ficar longe do poder ou ser flagrado em má companhia. Imagine, então, governo em petição de miséria – em todos os sentidos -, como o vosso! Segundo avaliação do Ibope, que já lhe foi tão favorável outrora, a vossa popularidade está ao rés do chão, como nunca esteve: 32% dos paranaenses classificam o governo de v. ex.ª como ruim ou péssimo; outros 39% consideram a vossa administração apenas regular; 24% ainda a acham boa; e só 3% dizem-na ótima. De acordo com o mesmo instituto, a reprovação é geral e os maiores índices estão na capital e Região Metropolitana de Curitiba – exatamente o vosso terreiro.
Mas tudo isso era mais do que esperado, excelência. Aqui mesmo cansamos de alertá-lo. Em vão. V. ex.ª afirmou que estava modernizando o Paraná, transformando-o no segundo pólo industrial automotivo do País. Será mesmo, excelência? A Chrysler já fez a sua trouxa e se mandou. Restam, ainda, a Renault e a Audi. Mas já começaram a dar férias coletivas e dispensar pessoal. E agora até os franceses, que eram tão vossos amigos, têm falado mal de v. ex.ª.
E a prometida revitalização das regiões deterioradas do Paraná? E aquele anel de integração estadual, então? Lembra-se, excelência? Ficaram esquecidos nas pranchetas do “Chapéu Pensador”? Ou extraviaram-se num dos muitos périplos internacionais de v. ex.ª? Como consolação, ganhamos os Jogos Mundiais da Natureza. Lembra-se também deles, excelência? Não, desses é melhor nem lembrar.
Na área administrativa, então, v. ex.ª foi um absoluto desastre. Começou por desmontar toda a estrutura administrativa; cercou-se muito mal e até criou cobras venenosas nos corredores do Palácio Iguaçu; revelou uma dolorosa incapacidade no manejo da máquina arrecadadora; humilhou e desvalorizou o funcionalismo, extraindo-lhe toda a auto-estima; deu cabo do sistema previdenciário estatal e da assistência médica aos servidores; atribuiu aos aposentados e pensionistas do Estado os males das contas públicas; entregou de bandeja à cobiçosa iniciativa privada o patrimônio do povo, construído a duras penas… Lembra-se do velho Banestado, dr. Lerner? Pois é, e a Copel, que v. ex.ª prometera proteger com a própria vida? Só não se foi também porque a população gritou e, desta vez, o Judiciário ouviu.
Em compensação, v. contabilizou um total (até aqui) de 49 (ou seria 50?) viagens internacionais. Para participar de simpósios, receber comendas, fazer autopromoção e matar as saudades do vosso gracioso netinho. Tirante este último e glorioso motivo, os demais são inaceitáveis.
O purgatório é justificável, excelência! Assenta-lhe bem.
Célio Heitor Guimarães
é apenas um membro da patuléia desvairada, mas com direito a voto.