Agricultura em crise pede por prorrogação de dívidas

Os produtores de grãos estão pedindo socorro ao governo. Prensados por uma forte perda na rentabilidade de suas culturas, os agricultores estão se articulando nas diversas regiões do País para reivindicar ao governo a prorrogação das dívidas de investimento que vencem neste ano e pedir a liberação de uma linha de emergência para apoiar a comercialização da safra 2005/06.

Os agricultores encaminharam ao Ministério da Agricultura uma radiografia dos problemas do setor. O trabalho, compilado pela Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), mostra que as lavouras de soja, milho e trigo sofreram uma forte deterioração nos termos de troca. Em outras palavras, é preciso produzir mais soja, milho e trigo para conseguir comprar a mesma quantidade de maquinário ou de insumos.

Segundo o estudo da Ocepar, a maior cota de responsabilidade pelas agruras do setor se deve à valorização do real. O trabalho mostra que o dólar comercial em janeiro ficou 19% abaixo do registrado na média nominal entre janeiro de 2003 e dezembro de 2005. Como a desvalorização vem ocorrendo sistematicamente, esta já é a segunda safra seguida em que os agricultores compram insumos dolarizados a valores mais altos em reais do que os registrados no momento da comercialização.

O dólar mais baixo significa preços agrícolas de produtos de exportação mais baixos também. Assim, ocorreu uma deterioração no poder de compra de tratores pelos produtores de soja. Em 2003, eram necessárias 2.962 sacas de soja no Paraná para comprar um trator. Em 2004, já eram necessárias 3.554 sacas e em 2005, o número necessário era de 4.946 sacas.

A relação entre a soja e os insumos necessários para sua produção também se alterou para pior. Em 2003, eram necessárias 2,76 sacas de soja para se comprar um litro de fungicida. O número, contudo, já havia saltado para 4,13 sacas por litro em 2005.

O cenário também se deteriorou para o trigo e para o milho. Em 2003, eram necessárias 29,17 sacas do cereal para compra de uma tonelada de fertilizantes. Em 2005, o número passou a ser de 43,11 sacas por tonelada. No caso do milho, eram necessárias 50,73 sacas para a compra de uma tonelada de uréia, seu principal fertilizante. O número havia saltado para 65,1 sacas em 2005.

Sem perspectiva de ver uma inversão na trajetória de queda do dólar, os produtores estão organizando uma ofensiva para conseguir socorro do governo federal. No caso do Mato Grosso, já se formou um fórum de produtores que compreende os sojicultores, cotonicultores, pecuaristas e outros segmentos do agronegócio. Os mato-grossenses querem a formação de uma força-tarefa em Brasília para manter o governo sob pressão. ?O problema é que nunca vi uma administração tão insensível como esta?, diz o presidente da Aprosoja.

Na quinta-feira os ruralistas tiveram um encontro na Comissão de Agricultura da Câmara com o secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin. ?Fizemos um relato da situação e pedimos providências?, afirmou João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar. O pedido mais urgente dos agricultores é para que sejam reescalonadas as dívidas de custeio deste ano e aquelas contraídas no ano passado e prorrogadas para 2006. ?As parcelas começam a vencer agora e receamos que o impacto seja grande no campo?, afirma.

Um segundo pedido dos ruralistas é para que as parcelas das linhas de investimento que vencem este ano sejam transferidas para o último ano de contrato. Por último, o setor quer a ampliação dos recursos destinados ao apoio à comercialização agrícola este ano. ?O projeto de orçamento tem previsão de R$ 600 milhões, mas pedimos uma verba adicional de R$ 2,1 bilhões.?

Os produtores receberam o primeiro aceno do governo. O setor ganhou prazo de 60 dias para pagar as dívidas de custeio da safra passada. ?A medida foi tomada para que tenhamos um pouco mais de tempo para trabalhar no pacote de medidas de apoio ao setor?, afirmou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

O presidente da Comissão de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, também pede, em caráter emergencial, o adiamento, por 120 dias, do pagamento de parcelas das linhas de investimento. A prorrogação evitaria que os produtores tenham que ?botar fora a safra? para honrar os contratos.

Para os próximos dias, o ministro promete um pacote mais amplo para agricultura. As medidas estão sendo discutidas no momento com o Ministério da Fazenda. ?Estamos avaliando um conjunto de medidas que vão desde o objetivo de reduzir o custo de produção até melhorar o preço final, via redução de tributos?, afirmou.

Segundo o ministro, as medidas também devem levar a uma revisão de toda a questão da dívida agrícola brasileira e a um modelo vigoroso de apoio à comercialização da safra, além do reforço para o seguro rural, biodiesel e setor canavieiro do Nordeste.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo