Os postos de atendimento do INSS viraram caso de polícia nos últimos tempos por causa das inúmeras agressões sofridas pelos médicos peritos. As ocorrências foram tantas que o órgão decidiu mudar a forma de divulgar os resultados das perícias médicas aos segurados. A partir de segunda-feira, os laudos não mais serão entregues pelos médicos. As pessoas passam a receber o resultado em outro dia.
A médica Flávia Rangel Ribeiro é perita da Previdência Social. Ela é uma das incumbidas de dizer se o segurado que a procura tem ou não direito a obter o auxílio-doença do INSS. Em outras palavras, Flávia é uma das que comunicam às pessoas que procuram o órgão se elas podem se afastar do trabalho e passar a receber da Previdência Social. Numa ocasião, um segurado não gostou do resultado da perícia e partiu para a agressão. "Comecei a dizer para ele me soltar porque eu estava grávida. Pedi para ele me soltar. Quando olhei, minhas mãos estavam roxas de tão forte que ele estava apertando", lembrou a médica.
Um outro médico também já foi agredido e ameaçado de morte pelo menos duas vezes. A agressão partiu de uma mulher que teve seu pedido de licença médica negado. O médico relatou que a agressão o fez se afastar do trabalho por dois meses. Atualmente, ele ainda se submete a tratamento psicológico para se recuperar do trauma.
"Ela arrancou um pano cheio de sangue, que ela disse que era sangue dela, porque estava com hemorragia. Disse que há dois ou três meses eu tinha cessado o benefício dela. Ela pegou aquele pano e bateu no meu rosto sem que eu tivesse reação, jogou meus óculos no chão e bateu mais duas vezes", conta o médico.
As ofensas, ameaças e agressões a esses profissionais são muito comuns. Uma pesquisa da Associação Nacional dos Peritos Médicos da Previdência Social revelou números assustadores: 93% já sofreram alguma agressão verbal e 22% já foram vítimas de violência física e verbal. A partir deste ano, a perícia passou a ser feita apenas por médicos concursados, o que aumentou o rigor nos exames e provocou a fúria de alguns segurados.
"Temos até casos de agressão com faca. Há desaparecimentos de médicos, há médicos com perfuração de pulmão, tentativa de estrangulamento", detalhou o perito Eduardo Henrique Almeida.
O presidente do INSS, Valdir Moysés Simões, garantiu que foi constatada uma queda no número de benefícios concedidos. "Em 2001, tínhamos aproximadamente 650 mil benefícios de auxílio-doença. Em outubro do ano passado, chegamos ao pico de 1 66 milhão de benefícios. Desde então, estamos melhorando nossa metodologia, identificando casos em que o segurado pode voltar ao trabalho. Em alguns casos o pagamento pode ser indevido. Nós observamos, a partir de então, uma queda na quantidade de benefícios pagos" – afirmou. As informações são da TV Globo.