Agora, a reforma

O recomeço é sempre tarefa difícil de ser encetada porque exige férrea determinação, capacidade inovadora e espírito inquebrantável diante da má vontade dos que preferem a manutenção das coisas onde estão ou como sempre foram. A crise escancara a necessidade da reforma política, único instrumento capaz de empreender o redirecionamento da economia interna dos partidos, hoje em adiantado estado de insolvência.

O presidente da República encarregou o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, da coordenação dos trabalhos de um grupo de especialistas na elaboração do projeto de reforma política a ser apresentado ao Congresso Nacional, num prazo de 45 dias. Temas como fidelidade partidária, financiamento público de campanhas e fortalecimento do sistema eleitoral devem voltar ao debate.

A repentina disposição pela reforma política, e esse é o fato a lamentar, ressurge no fragor de uma crise de autoridade do governo, exposto em sua fragilidade pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson, ao que parece, manobra desesperada com o fim de desviar a atenção da mídia do esquete inicial estrelado por Maurício Marinho, o espaventado ex-diretor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

A reforma arrasta-se há mais de dez anos no Congresso. Tempo suficiente para a ampla análise e aperfeiçoamento de todos os itens indispensáveis à concepção de um mecanismo democrático, ágil e adaptado às necessidades contemporâneas. Se não saiu do papel, a responsabilidade deve ser debitada ao próprio Congresso, cuja maioria não mostra o menor interesse em reformar coisa alguma.

Para muitos congressistas, a aprovação da reforma significaria nada menos que morte política, tendo em vista os embargos à prática de conhecidos expedientes eleitoreiros, como doações não declaradas e compra de votos.

No Brasil, malgrado o acúmulo de experiências nefastas, persiste o péssimo hábito de passar a tranca depois da porta arrombada. Seria de grande valia para o País se a reforma já tivesse livrado a vida pública das repugnantes figuras que insistem em considerá-la pouco mais que uma pocilga.

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