Afrouxando a corda

Os fundamentos da economia brasileira são sólidos, de fato. A equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso é mesmo respeitada no exterior, inclusive nos organismos multilaterais de financiamento (e monitoramento), como o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil é reconhecido como um gigante. Verdade que deitado em berço esplêndido, mas os que comandam a economia mundial temem muito que caiamos da cama. Seria um terremoto. Desastre para os Estados Unidos, que nos têm como o maior e principal parceiro na América do Sul e reconhece que a nossa é a maior economia desta parte do continente. Fracasso (mais um) para o presidente George Walker Bush, que prometeu e precisa de boas relações conosco, já que vai de mal a pior com o resto do mundo e mesmo internamente, nos Estados Unidos. E fracasso para o FMI, que, com o Brasil quebrando, veria ocorrer um efeito dominó, caindo país após país, vítimas dos temores e maus humores do mercado. Com esse desastre por atacado, formariam uma fila nas portas do FMI e do governo norte-americano, não com pires nas mãos, mas com balaios, pedindo montões de dinheiro.

A globalização tem seus males, dentre eles o de que as crises pegam. Podem surgir aqui e acabar infectando até um longínquo país da Ásia. Face a essas conclusões e fatos, o Brasil acaba de conseguir um acordo surpreendente com o FMI. Surpreendente para nós, brasileiros, simples mortais, que não imaginávamos chegasse à gigantesca cifra de US$ 30 bilhões. Por aqui se falava nuns US$ 10 bilhões ou pouco mais. E o compromisso de redução de reservas cambiais, já firmado no acordo ainda em vigor, que é de US$ 15 bilhões, baixa para US$ 5 bilhões, disponibilizando para as nossas autoridades financeiras mais US$ 10 bilhões. Assim, na conta para enfrentar a crise financeira gerada pelas desconfianças do mercado, desencadeadas pela proximidade das eleições, entram livres US$ 40 bilhões. US$ 10 de reservas cambiais liberadas e US$ 30 de um empréstimo “stand by” do Fundo. Destes, US$ 6 bilhões poderão ser sacados ainda neste governo e o resto, no próximo, se o presidente eleito concordar.

Os temores dos candidatos de oposição, que olhavam com desconfiança para o acordo, não se concretizaram. Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, temia que o FMI exigisse a prática de juros altos. Nada disso. Há uma exigência de ordem política. Declarando que confia nos candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, o FMI ressalta que a concordância do eleito é que irá ditar a continuidade do acordo, liberação da maior parte do dinheiro agora comprometido. Outra, de ordem técnica, que é o monitoramento trimestral do acordo. Com ele, o Brasil terá de produzir um superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto, compromisso que já existe. O nosso governo até havia declarado que pretendia elevar esse superávit a mais de 4%.

Os candidatos à Presidência, salvo Garotinho, já declararam, pessoalmente ou por seus porta-vozes, anuência ou boa vontade com o acordo. Assim, é razoável esperarmos dias mais tranqüilos, ou menos agitados, até as eleições. Razoável imaginar a baixa do dólar frente ao real, contenção da fuga de capitais, aumento moderado do volume de investimentos internos e externos, diminuição do nervosismo do mercado financeiro e de capitais. Nada de festa. Uma situação menos aflitiva, mas que ainda exige muito cuidado, pois não podemos nos esquecer de que as eleições se aproximam e isso sempre gera dúvidas e temores. E os especuladores continuam espertos.

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