Foto por: Thomas Coex

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Apesar da colonização holandesa da África do Sul há três séculos e de seus descendentes terem instaurado o regime do Apartheid, a África do Sul moderna, orgulhosa de organizar o Mundial de futebol, espera que a ‘Laranja Mecânica’ saia vitoriosa domingo, na partida contra a Espanha.

“Apoio a Holanda, não me importa o passado. Agora, somos um país livre”, afirma Fundi Nqoloba, de 34 anos, que compartilha com o filho o entusiasmo com a seleção do técnico Bert van Marwijk.

Mais de 200.000 pessoas reuniram-se na terça-feira à noite no centro da Cidade do Cabo, para assistir à semifinal conquistada pela Holanda (3-2) na partida contra o Uruguai – a equipe que, por sua vez, havia terminado com o sonho dos ‘Bafana Bafana’ de passar às oitavas.

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No contexto do Mundial, os sul-africanos parecem recordar de uma distante relação de parentesco com os holandeses.

Os primeiros colonos europeus chegaram à Cidade do Cabo em 1652, sob as ordens da Companhia Holandesa das Índias Orientais que queria estabelecer uma base para suas embarcações.

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Sua presença marcou este território, onde ainda hoje fala-se o africâner, uma língua derivada do holandês numa região de maioria mestiça.

Entre as 32 seleções do Mundial, a Holanda é “a equipe mais próxima da África do Sul”, explica Goesain Sadien, de 27 anos, que tem como jogador favorito o artilheiro holandês do Arsenal, Robin van Persie.

A Cidade do Cabo, muito turística, conserva as marcas de seu passado colonial, sobretudo na arquitetura.

O Forte da Boa Esperança, construído pelo holandês Jan van Riebeeck, o edifício mais velho do país, é um dos mais emblemáticos da cidade e do qual seus moradores se sentem orgulhosos.

É o caso da guia de turismo Grace Mahalefele, que não esconde o desejo de que a Holanda saia vitoriosa na final de domingo. “Se não tivessem construído o forte, não trabalharia aqui”, diz ela do pátio do edifício, concluído há mais de 300 anos.

No entanto, há até muito pouco, a língua africâner simbolizava o regime segregacionista branco (1948-1994), com ensino obrigatório, o que motivou a sublevação, em 1976, dos estudantes das escolas de Soweto, um fato que abriu o olhar do mundo à realidade do Apartheid.

Em 2010, o africâner perdeu muito de sua imagem negativa representando, agora, ao contrário, um elemento de união com a Holanda.

“Vou com eles porque falamos africâner, a língua deles e a nossa”, considera Magmoeda van Wyk, de 32 anos de idade.

Para outros, o apoio dos sul-africanos à Holanda nada tem a ver com a história e se baseia unicamente nos resultados em campo.

“Simplesmente gosto de seu tipo de futebol: construtivo, simples, coletivo, que me agrada”, explica Jeremy Johannes, de 42 anos.

“Aprendi história na escola, a era de Jan van Riebeeck e tudo isso, mas minha relação com a Holanda se baseia apenas no futebol”, comenta.