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“Estamos conscientes de que um evento desta amplitude apresenta oportunidades para os criminosos, como os traficantes de mulheres e crianças”, destacou recentemente o presidente sul-africano, Jacob Zuma.
O Mundial é como “ímã natural para os traficantes que veem o evento como uma oportunidade para ganhar muito dinheiro”, acrescentou Virginia Tilley, do Conselho Sul-africano de Investigação em Ciências Sociais (HSRC).
“A demanda por sexo e drogas cresce durante nesse tipo de evento de grande porte”, enfatizou a analista.
A África do Sul já é um destino privilegiado para as redes internacionais de prostituição, que “importam” as mulheres jovens estrangeiras, com menos chances de portarem o vírus HIV, segundo o estudo do HSRC.
O país africano tem o maior número de soropositivos do mundo, 5,7 milhões de pessoas. De acordo com o úncio estudo realizado sobre o tema, mais de 45% das prostitutas estão com Aids.
Semana passada, a polícia sul-africana libertou uma jovem de 17 anos de um prostíbulo da Cidade do Cabo.
A África do Sul tem 250 mil crianças morando nas ruas, enquanto outras 40 mil se prostituem, segunda a associação Fair Trade in Tourism South Africa.
Sensibilizadas pelos dados da ONG, as maiores empresas turísticas do país estabeleceram, antes do Mundial, um código de conduta que exigiu a inclusão de cláusulas contra o tráfico de seres humanos nos compromissos com empresas terceirizadas.
Para proteger a população, as autoridades também lançaram campanhas sobre o tema usando o futebol para chamar a atenção dos pais sobre a vigilância dos seus filhos durante o campeonato. Até mesmo as escolas vão ficar fechadas durante as quatro semanas do Mundial, entre a próxima sexta-feira e o dia 11 de julho.
“As crianças correm perigo se ficarem passeando sozinhas pela cidade. Os traficantes podem aproveitar a festa futebolística para sequestrar aquelas que estiverem desacompanhadas”, informou a Associação Fair Trade.
“Também pode ocorrer um aumento do trabalho infantil. Os pais mandam seus filhos mendigarem ou venderem artigos nas ruas para os turistas, a fim de ganharem dinheiro durante o mundial”, acrescentou.
O tráfico de seres humanos não é considerado um crime específico na África do Sul, o que constitui um grande obstáculo para a luta contra a atividade.
Em Moçambique, diversos casos foram registrados, mas raras foram as vezes em que as autoridades tomaram providências a respeito. “Os casos de tráfico de seres humanos aparecem na mídia e depois a polícia investiga”, explicou o sociólogo Joaquim Nhampoca.
Chandre Gould, pesquisadora do Instituto Sul-africano de Estudos sobre a Segurança, pensa, no entanto, que não é preciso dramatizar a situação e destaca que as estatísticas são, frequentemente, pouco significativas.
“Para atrair a atenção sobre o problema e para combater o que se considera uma violação terrível dos direitos humanos, são criadas estatísticas que não têm fundamento”, destacou Gould.
“Na Copa do Mundo da Alemanha e nos Jogos Olímpicos de Atenas, não houve um aumento do tráfico. Não existe razão para pensar que será diferente na África do Sul”, concluiu.