África do Sul dobra vigilância contra tráfico de seres humanos durante Mundial

Gabriel Bouys/AFP

A África do Sul, que espera receber cerca de 300 mil visitantes para a Copa do Mundo, dobrou as precauções para impedir o aumento do tráfico de seres humanos e o aliciamento de menores em redes de prostituição durante a competição.

“Estamos conscientes de que um evento desta amplitude apresenta oportunidades para os criminosos, como os traficantes de mulheres e crianças”, destacou recentemente o presidente sul-africano, Jacob Zuma.

O Mundial é como “ímã natural para os traficantes que veem o evento como uma oportunidade para ganhar muito dinheiro”, acrescentou Virginia Tilley, do Conselho Sul-africano de Investigação em Ciências Sociais (HSRC).

“A demanda por sexo e drogas cresce durante nesse tipo de evento de grande porte”, enfatizou a analista.

A África do Sul já é um destino privilegiado para as redes internacionais de prostituição, que “importam” as mulheres jovens estrangeiras, com menos chances de portarem o vírus HIV, segundo o estudo do HSRC.

O país africano tem o maior número de soropositivos do mundo, 5,7 milhões de pessoas. De acordo com o úncio estudo realizado sobre o tema, mais de 45% das prostitutas estão com Aids.

Semana passada, a polícia sul-africana libertou uma jovem de 17 anos de um prostíbulo da Cidade do Cabo.

A África do Sul tem 250 mil crianças morando nas ruas, enquanto outras 40 mil se prostituem, segunda a associação Fair Trade in Tourism South Africa.

Sensibilizadas pelos dados da ONG, as maiores empresas turísticas do país estabeleceram, antes do Mundial, um código de conduta que exigiu a inclusão de cláusulas contra o tráfico de seres humanos nos compromissos com empresas terceirizadas.

Para proteger a população, as autoridades também lançaram campanhas sobre o tema usando o futebol para chamar a atenção dos pais sobre a vigilância dos seus filhos durante o campeonato. Até mesmo as escolas vão ficar fechadas durante as quatro semanas do Mundial, entre a próxima sexta-feira e o dia 11 de julho.

“As crianças correm perigo se ficarem passeando sozinhas pela cidade. Os traficantes podem aproveitar a festa futebolística para sequestrar aquelas que estiverem desacompanhadas”, informou a Associação Fair Trade.

“Também pode ocorrer um aumento do trabalho infantil. Os pais mandam seus filhos mendigarem ou venderem artigos nas ruas para os turistas, a fim de ganharem dinheiro durante o mundial”, acrescentou.

O tráfico de seres humanos não é considerado um crime específico na África do Sul, o que constitui um grande obstáculo para a luta contra a atividade.

Em Moçambique, diversos casos foram registrados, mas raras foram as vezes em que as autoridades tomaram providências a respeito. “Os casos de tráfico de seres humanos aparecem na mídia e depois a polícia investiga”, explicou o sociólogo Joaquim Nhampoca.

Chandre Gould, pesquisadora do Instituto Sul-africano de Estudos sobre a Segurança, pensa, no entanto, que não é preciso dramatizar a situação e destaca que as estatísticas são, frequentemente, pouco significativas.

“Para atrair a atenção sobre o problema e para combater o que se considera uma violação terrível dos direitos humanos, são criadas estatísticas que não têm fundamento”, destacou Gould.

“Na Copa do Mundo da Alemanha e nos Jogos Olímpicos de Atenas, não houve um aumento do tráfico. Não existe razão para pensar que será diferente na África do Sul”, concluiu.

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