África do Sul avalia usar Exército contra xenofobia

Ministros de segurança da África do Sul discutem a possibilidade de contar com o Exército para interromper uma onda de ataques contra imigrantes estrangeiros que já deixou pelo menos 22 mortos. Armadas com facões, tochas e bastões, multidões de sul-africanos espancaram, queimaram e mataram em três dias mais de duas dezenas de trabalhadores imigrantes em favelas de Johannesburgo.

A escalada dos ataque contra estrangeiros, que teve início na semana passada, é uma das piores ondas de violência no país desde o fim do apartheid. O saldo até a noite era de pelo menos 22 imigrantes mortos – dez apenas ontem. Seis mil foram obrigados a refugiar-se em delegacias e igrejas. As vítimas vêm principalmente do Zimbábue, de onde saíram para fugir da miséria e da violência política. Dos cerca de 5 milhões de imigrantes na África do Sul, 3 milhões são zimbabuanos.

Sul-africanos pobres acusam os imigrantes de roubar empregos que poderiam ser ocupados por trabalhadores locais diante de uma taxa de desemprego de 30%. Os estrangeiros também são responsabilizados pela falta de moradia e por fomentar a violência nas periferias. O presidente Thabo Mbeki condenou a onda de violência xenófoba como "vergonhosa e criminosa".

O secretário-geral do partido Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), Gwede Mantashe, afirmou que se o Exército for utilizado, os militares teriam o respaldo de policiais. O reforço policial já foi enviado para as áreas afetadas e Mbeki disse que pretende "acabar com a anarquia". Na segunda, uma coalizão de grupos de direitos humanos qualificou os ataques como uma questão de "emergência nacional" e apelou para que o governo considerasse o uso de tropas.

Dezenas de mulheres estrangeiras foram estupradas; homens, carbonizados; barracos, queimados e lojas, destruídas. "Se voltarmos para a rua, eles nos matam", disse um zimbabuano à rede britânica de televisão BBC. Os ataques xenófobos começaram na favela de Alexandria, em Johannesburgo, mas ontem se espalharam para outros bairros e outras cidades, principalmente na fronteira com o Zimbábue.

Principal alvo dos agressores, muitos imigrantes zimbabuanos disseram que pretendem voltar para seu país, que enfrenta uma inflação de 165.000% ao ano (a maior do mundo) e um limbo político desde a eleição presidencial de março. Centenas de opositores já foram agredidos desde então. O segundo turno – entre o presidente Robert Mugabe e o oposicionista Morgan Tsvangirai – está marcado para 27 de junho.

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