Presas dia 28 de junho por colaboração com o Primeiro Comando da Capital (PCC), as advogadas Libânia Catarina Fernandes Costa, de 26 anos, e Valéria Dammous, de 41, confessaram em depoimentos à Polícia Civil, em Presidente Prudente, que eram pagas para prestar vários tipos de serviços aos clientes. As tarefas mais freqüentes eram transmitir recados entre os presos – especialmente para a realização de motins – e providenciar a entrada de telefones celulares e baterias nos presídios.

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Libânia revelou que usaria uma nova técnica para repassar recado , no parlatório da Penitenciária de Presidente Bernardes, ao preso Luiz Henrique Fernandes, o L.H., que por sua vez retransmitiria a mensagem ao chefe da facção, Marcos Camacho, o Marcola. A advogada disse ter sido "orientada a escrever mensagens no papel e colocá-las sobre o seio, de frente para o preso, no parlatório, e de costas para supostas câmeras ali existentes". Libânia diz, porém, que "foi presa antes de fazer o primeiro contato com Marcola".

Valéria calculou ter recebido, desde o início de 2005, cerca de R$ 20 mil do PCC, pagos "sempre às quintas-feiras, a mando de Leonardo", preso descrito pela advogada como "chefe da área jurídica do PCC", com quem confessou ter tido um relacionamento amoroso. A advogada disse que a última ordem recebida antes de ser presa foi repassar um recado do preso Anderson Jesus Parro, o Moringa, para o detento identificado como Magrelo, para que fossem mortos cinco agentes penitenciários, em junho passado. Valéria diz, no entanto, que não passou a ordem adiante e que sequer conseguiu contato com Magrelo, na penitenciária de Flórida Paulista.

Libânia disse que começou a trabalhar para a facção criminosa em maio deste ano e que "recebe honorários do PCC diretamente em sua conta corrente do Banco do Brasil". Os depósitos, segundo ela, variavam de R$ 500 a R$ 7 mil. Dados da movimentação financeira da conta bancária da advogada que chegaram à CPI, no entanto, indicam que em 2004 ela movimentou mais de R$ 186 mil, quando a média dos dois anos anteriores era de pouco mais de R$ 8 mil. Em 2005, Libânia movimentou R$ 53.663,12.

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Os depoimentos das duas advogadas estão em poder dos deputados da CPI do Tráfico de Armas, que amanhã ouvirão ambas na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. As duas aceitaram fazer a confissão e dar detalhes à polícia e ao Ministério Público sobre a colaboração com o PCC em troca da chamada delação premiada.

Valéria contou que inicialmente os depósitos por seus serviços ao PCC eram feitos na conta de um colega advogado, mas que depois passaram a ser feitos diretamente em sua conta. A advogada diz ter percebido "que ganhava mais dinheiro trabalhando para o PCC do que exercendo as suas funções de advogada, em especial como integrantes da assistência judiciária".

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Tanto Libânia quanto Valéria comprometeram, em seus depoimentos, a ONG Nova Ordem, que está sendo investigada por suposto envolvimento com o PCC. Valéria disse ter feito contatos com integrantes da Nova Ordem, a mando de Leonardo, e que levou documentos encaminhados pela ONG ao criminoso. "A Nova Ordem pretendia atender a todos os presos, independente da facção, e exigia R$ 5 por mês de cada sentenciado", afirmou a advogada à polícia.

Segundo Valéria, o presidente da Nova Ordem, Ivan Raimundy, tinha planos de "escrever um livro sobre o PCC, sendo que o dinheiro reverteria para o PCC". Libânia diz que Ivan usava um codinome, Gaspar, e que acredita que a Nova Ordem "tem a intenção de monopolizar qualquer tipo de negociação de qualquer problema envolvendo o sistema penitenciário". Ela diz não poder provar, mas acredita que "a Nova Ordem é uma organização de fachada do PCC.