A CPI do Tráfico de Armas concluiu a análise dos dados de sigilos telefônicos quebrados que reforçam a tese do relator, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), de que o assassinato do juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antônio Machado José Dias, em março de 2003, teve a participação da advogada Ariane dos Anjos, suspeita de integrar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). "Este novo cruzamento do sigilo telefônico traz elementos de prova suficientes para justificar o pedido ao Ministério Público de indiciamento de Ariane por participação no assassinato do juiz corregedor", diz Pimenta, que em setembro já havia anunciado a intenção de denunciar Ariane pelo crime, no relatório final da CPI.
Os policiais federais que trabalham para a CPI descobriram um número de telefone celular de São Paulo que acreditam ter funcionado como uma central para comunicação entre criminosos e a advogada, nos três meses que antecederam o assassinato. Nesse período, houve 287 contatos entre o número de São Paulo e o telefone celular usado na época por Ariane, com prefixo de Araraquara. Um desses contatos aconteceu às 18h31 do dia 14 de março de 2003, minutos depois do assassinato. Outros quatro contatos entre os dois telefones foram feitos no dia 14. A CPI ainda investiga se os criminosos usavam um número clonado ou se o proprietário do telefone tinha ligação com a facção criminosa.
Outra informação que intriga os parlamentares é o fato de que, depois do dia 14 de março, o telefone foi usado apenas no dia 21 com oito tentativas de contato com Ariane e aparentemente foi desativado, pois não há mais registro de ligações daquele número.
A CPI já havia descoberto que, às 18h31 do dia do assassinato, Ariane também teve contato por telefone com Priscila Maria dos Santos, ligada ao PCC, e que responde a processos por tentativa de homicídio, estelionato e formação de quadrilha. Segundo a polícia, Priscila é comparsa de Luiz Henrique Fernandes, o LH, um dos líderes da facção criminosa. Depois receber a ligação de Priscila, Ariane recebeu o telefonema do número investigado pela CPI. São telefonemas rápidos, o primeiro e oito segundos e o outro de quatro segundos. Para Paulo Pimenta, eram contatos apenas para informar sobre a execução de Machado.
Ariane nega veementemente qualquer colaboração com o PCC e qualquer participação no assassinato do juiz. Em depoimento à CPI, há dois meses, a advogada entregou mais de mil páginas de documentos de sua defesa e disse ser "a maior interessada" no esclarecimento dos crimes nos quais há suspeita de sua participação, como a transmissão de recados entre os integrantes do PCC que estão presos.
No dia do assassinato de Machado, Ariane esteve durante duas horas e quinze minutos, das 14h às 16h15 com o chefe do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, na penitenciária de Avaré. Marcola é um dos clientes de Ariane e foi apontado pela polícia como mandante do assassinato de Machado. Há uma semana, policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) prenderam Adilson Daghia, 37 anos, o Ferrugem ou Di. Para a polícia, ele era o único dos quatro envolvidos na morte de Machado que ainda estava em liberdade. Com a prisão, o delegado Ruy Ferraz, que investiga o PCC, considerou encerrado o caso do juiz corregedor. O relator da CPI, no entanto, vai insistir na tese do envolvimento de Ariane.