Carl de Souza/AFP
A África do Sul conta com uma importante comunidade de língua portuguesa, o que faz Brasil e Portugal, adversários de sexta-feira em Durban, se sentirem um pouco em casa.
Embora a maioria dos portugueses que vivia em Angola e Moçambique tenha voltado a seu país após a independência dessas colônias na década de setenta, outros não quiseram deixar o continente e emigraram para a África do Sul.
Mas a relação de Portugal com a África do Sul começou há muito tempo, quando os navegantes lusitanos exploraram a costa do país no final do século XV, entre eles Bartolomeu Dias, em 1486, e Vasco da Gama, em 1497, que chamou de Cabo da Boa Esperança a região da Cidade do Cabo quando passou a caminho da Índia.
No início do século XX começou a chegar à África do Sul um fluxo de emigração portuguesa, sobretudo da Ilha da Madeira (onde nasceu Cristiano Ronaldo), que se dedicou ao comércio e constitui a grande maioria da comunidade lusitana no país.
A chegada dos portugueses fugindo de Moçambique e Angola após a independência desses países na década de setenta fez com que a comunidade lusitana na África do Sul passasse de cerca de 50.000 para quase 300.000.
Na África do Sul, o idioma de Camões é falado não só pelos descendentes de portugueses, como também pelos imigrantes que chegaram de Angola, Brasil e Moçambique, o que eleva a quantidade de lusófonos para por volta de 600.000, de uma população sul-africana de 49 milhões de pessoas.
Isto fez com que os sul-africanos tenham adaptado palavras procedentes do português que foram eliminadas na língua afrikaner, falada pelos brancos do país, entre elas ‘kraal’, que vem do português ‘curral’.
O professor Lyal White é uma das vozes mais importantes da África do Sul sobre os laços com os países latino-americanos. Ele considera que os seus compatriotas conhecem pouco sobre Portugal ou Brasil.
“Embora haja uma grande comunidade portuguesa no país, os sul-africanos conhecem muito pouco sobre Portugal ou sobre o futebol português, já que aqui as mais acompanhadas são a liga inglesa e a espanhola”, explicou White à AFP.
Pesquisador e especialista em política econômica da África e da América Latina, ele trabalha no South African Institute of International Affairs (SAIIA) e viveu em África do Sul, Ruanda, Argentina, Colômbia e Estados Unidos.
White coordena um trabalho de pesquisa sobre as relações da África do Sul com a América Latina.
“Os torcedores sul-africanos sabem muito pouco sobre o futebol latino-americano, mas acompanham principalmente seleções como Brasil e Argentina. Sem dúvida, o Brasil é o favorito dos sul-africanos. De fato, depois dos Bafana Bafana, os sul-africanos tendem a apoiar o Brasil”, acrescenta White.
No estádio de Durban, haverá apoio para as duas seleções, com uma população de origem lusitana apoiando Portugal e os sul-africanos talvez torcendo pelo Brasil.
