O adversário dos trabalhadores rurais sem-terra não é o agronegócio, mas o latifúndio improdutivo e a propriedade que não cumpre função social. A afirmação é do ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. "Esse é que é o adversário e por isso há uma política de Estado no Brasil para dividir essa terra, como meio de dar acesso de milhões de famílias à terra e à cidadania", enfatizou o ministro, após abrir reunião da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, realizada nesta quarta-feira no Ministério da Justiça.
Nilmário Miranda reconheceu que "a reforma agrária provoca conflitos", mas destacou que este ano houve redução no número de mortes no campo. De acordo com ele, de janeiro a novembro de 2004 ocorreram 14 mortes – um terço a menos do que o número registrado no ano passado. "No próximo ano nós queremos ?morte zero?, que os conflitos sejam resolvidos pela Justiça, por mesas de negociação ou por via administrativa, nunca pelas armas",
Sobre a possibilidade de haver acirramento de conflitos entre sem-terra e fazendeiros, o ministro voltou a afirmar que o governo não permitirá o uso da violência. "Isso nós não vamos admitir. E as questões legais são decididas pela Justiça. É assim que deve ser, nunca pelas armas", acrescentou Miranda, ao lembrar que as ocupações não são feitas apenas pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). "Os conflitos não é só do MST, vamos ser justos, tem a Contag [Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], tem vários outros movimentos sociais, são inúmeros que fazem ocupações no Brasil".
Nilmário Miranda destacou ainda que há dois anos não ocorrem no país mortes no campo provocadas por policiais. "Isso é uma conquista para a sociedade brasileira. Quer dizer que as polícias se capacitaram, aprenderam a tratar essa forma específica de delito como uma questão social, que tem especificidades. A lei tem que ser cumprida, mas tem que levar em conta a singularidade do conflito social", observou.