?Não consigo ter raiva de quem me machucou.? Esse era o sentimento de Priscila Aprígio da Silva, de 13 anos, que ontem recebeu alta do Hospital Alvorada 13 dias depois de ter sido vítima de uma bala perdida durante assalto a uma agência do Itaú em Moema, na zona sul. No entanto, deu um conselho ao autor do disparo. ?Pare para pensar duas vezes antes de deixar uma pessoa numa cadeira de rodas.? Em entrevista ao Jornal Nacional, ela cobrou justiça. ?Só quero que, quem fez isso, pague.
Sempre sorrindo, a adolescente falou com jornalistas no começo da noite. Disse que se considera um exemplo de perseverança e está confiante em sua recuperação. ?Quando quero uma coisa, vou atrás. Não importa quanto tempo vai demorar. Tenho esperanças de voltar a andar, talvez em um ano?, afirmou. ?Sou igual a vocês. Só sou cadeirante, por enquanto, se Deus quiser.? A mesma confiança é demonstrada pela mãe, Maria de Fátima da Silva, de 47 anos. ?Ainda vou vê-la caminhando com os próprios pés.
Priscila reconheceu que quase desanimou em alguns momentos, mas, em seguida, recebia o apoio da família e de amigos. ?Não tenho motivo para ficar desanimada. Cada dia fico mais feliz.? Aluna da 8ª série, ela quer voltar logo a estudar, mas ainda não sabe quando.
A jovem deixou o hospital e seguiu para um flat da rede Comfort, na Rua Vergueiro, na Vila Mariana, na zona sul. Foi a saída encontrada para ela ficar o mais perto possível da Divisão de Medicina de Reabilitação (DMR), do Hospital das Clínicas, no mesmo bairro, onde vai iniciar o tratamento para tentar voltar a andar. A família mora em Embu, na Grande São Paulo, e não teria como levá-la até a DMR.
Com direito a um acompanhante – que deve ser quase sempre a mãe -, a jovem ficará num quarto com banheiro adaptado para deficientes e área de 25 m². Os custos de hospedagem e alimentação serão pagos pelo Itaú. A diária custa R$ 185, mas há um desconto – não revelado – para o banco, por ser um grande cliente do Comfort. O quarto está reservado por 30 dias, mas o prazo será prorrogado pelo tempo necessário. A reforma da casa da família deve ficar para depois, porque ainda não houve acordo com os outros seis irmãos de Silva que receberam o imóvel de herança.
Priscila foi avaliada por uma equipe da DMR ontem à tarde. Ainda não há previsão de quanto tempo o tratamento dela vai durar. Em nota, a DMR informou que dará um parecer sobre a situação de Priscila em duas semanas.
O pai dela, Isaías Joaquim da Silva, disse que gostaria de levá-la ao hospital da Rede Sarah, em Brasília, especializado em pacientes com problemas de locomoção. Silva disse que agora começa o ?segundo tempo? da recuperação da filha e, por isso, pediu ajuda à população. Depósitos podem ser feitos na conta do Bradesco de número 1004344-1, agência 0495-2. O CPF é 374218608-60.
O advogado da família, Ademar Gomes, disse que em dez dias entrará com ação cível contra o banco Itaú por danos morais, materiais, estéticos e lucro cessante. O valor proposto da indenização é de R$ 2,5 milhões.
Ontem, a Delegacia de Roubo a Banco prendeu mais dois suspeitos de terem participado do roubo do Itaú: Everton da Silva dos Reis e João Carlos Alves de Almeida. Ambos confessaram o crime. Com eles, já são quatro os presos. Além deles, a polícia deteve um suspeito do roubo ao Bradesco da Avenida Cidade Jardim, ao lado do Empório Santa Maria. Na fuga, os bandidos balearam no pescoço um cliente do empório.