O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de mandante no assassinato da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, em Anapu, no sudoeste do Pará, senta no banco dos réus do júri popular, hoje, em um julgamento com previsão de durar dois dias. Apontado pelo Ministério Público também como mandante do crime, o fazendeiro Regivaldo Galvão, o Taradão, aguarda em liberdade o julgamento de recurso em que pretende ser excluído do processo. A freira americana foi morta porque tentava implantar na região um Projeto de Desenvolvimento Sustentado, o que contrariava os interesses de grandes fazendeiros, alguns deles acusados de grilagem e desmatamento de terras públicas em Anapu, além de fraudes contra a extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
A defesa de Bida vai insistir na tese de que o acusado não tinha motivos para mandar matar a freira. O Ministério Público e os assistentes de acusação tentarão provar que o réu agia em parceria com Galvão, de quem Bida era sócio. Na visão da acusação, Bida tinha razões para encomendar o crime – uma vez que ele havia sido denunciado pela irmã Dorothy em cartas enviadas às autoridades paraenses. A religiosa acusava o fazendeiro de ter praticado queimada ilegal e destruição de roças de agricultores. Por causa do crime ambiental, Bida sofreu uma multa de R$ 3 milhões lavrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). ?Não teremos paz nestas terras de Anapu enquanto alguém não matar aquela velha?, teriam comentado Bida e Galvão, de acordo com a denúncia do Ministério Público.
Ao todo, cinco pessoas foram denunciadas por participação no crime, mas até agora apenas quatro foram julgadas e condenadas. O pistoleiro Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, autor dos seis tiros que mataram Dorothy, foi condenado a 27 anos. O comparsa de Sales na morte, Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, pegou 17 anos. O capataz de fazenda Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas acabou beneficiado com a redução de um terço da sentença de 18 anos se valendo do recurso de delação premiada. O recurso garante benefício a acusados que colaboram dando informações no transcorrer do processo.
O irmão da missionária, David Stang, veio dos Estados Unidos para acompanhar o julgamento. Ele disse que a freira deu sua vida pela preservação da floresta amazônica e pelos agricultores brasileiros que lutam pela reforma agrária e justiça no campo. ?É preciso que a justiça aconteça e eu tenho fé que isso se fará?, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo. Cerca de mil agricultores, vindos de várias regiões do Pará, especialmente do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, onde a missionária atuava, estão em Belém. Eles montaram um acampamento na frente do Fórum Cível, onde Bida será julgado.