Diante dos tantos acordos e patranhas que se vêem compelidos a fazer para ganhar a eleição, tanto o presidente da República quanto os governadores estaduais, pelo que é dado assimilar das dificuldades encontradas na escolha e nomeação de ministros ou secretários, além dos dirigentes maiores das empresas públicas, não estará equivocado quem classificar tal conjunto de idiossincrasias como amarfanhada colcha de retalhos, sem a menor configuração de grupo coeso e, muitas vezes, transparecendo total despreparo para seguir a partitura regida pelo maestro.
As agruras vividas pelo presidente Lula quanto à nomeação do novo ministério indicam o grau de comprometimento assumido com os partidos da base, que ajudaram a construir o imenso dique de votos de outubro e resolveram o imbróglio da Câmara dos Deputados, mas agora exigem a liquidação da fatura, mediante a ocupação de espaços estratégicos na composição do governo.
Diz-se que o PMDB, que já tem três ministérios, ficaria imensamente regalado com mais dois, um deles reservado de antemão ao deputado federal baiano Geddel Vieira Lima, no governo anterior falastrão e furibundo opositor do desembarque do partido no apoio à reeleição de Lula, mas, pelas artes ilusionistas do governador Jaques Wagner, transformado no mais articulado dentre os fiadores da coalizão.
O presidente vai de um lado para outro e não consegue fechar o ministério. Quase 40 dias depois da posse, ainda não teve o condão de tornar público o time de auxiliares do primeiro time. Em conseqüência, aproveitam os boateiros de turno e os interesseiros de sempre para soltar ao vento nomes rigorosamente incompatíveis, não por questões éticas ou desvios de caráter, mas pela posição ideológica conflitante e, é preciso ponderar, pelo desconforto natural do próprio Lula.
Todavia, frisam os analistas da política tupiniquim que isso não chega a ser empecilho irremovível. Para ilustrar, lembram o constrangimento de Lula ao dar posse aos substitutos dos ministros exonerados para concorrer a cargos eletivos, no ano passado. Alguns deles o presidente (e a nação) somente vieram a conhecer no momento da posse. Um exemplo de que é preciso mudar para que tudo permaneça igual.