Uma nova frustração teve lugar na reunião de negociações da Rodada de Doha de comércio internacional, realizada na cidade alemã de Potsdam, com a participação de ministros dos Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia. As negociações visavam, em princípio, tornar menos assimétrica a relação comercial entre países industrializados e emergentes.
Repetindo fracassos anteriores, desde o primeiro encontro da série, a rodada alemã foi encerrada antes do prazo previsto, sob o impacto do libelo acusatório formulado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim. Ele atribuiu a americanos e europeus a celebração de um pacto visando à redução de concessões na área agrícola, exigindo como contrapartida das economias emergentes o corte das tarifas de importação de produtos industriais.
O clima entre os participantes do encontro ganhou ares de beligerância quando o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, declarou sem meias palavras que tanto norte-americanos quanto europeus haviam demonstrado ?inflexibilidade e arrogância?, em flagrante desconhecimento das mudanças ocorridas no mundo.
Amorim também não economizou críticas à postura dos negociadores dos Estados Unidos e União Européia, emendando que ?acabou o tempo em que os países em desenvolvimento baixavam a cabeça e aceitavam o que os industrializados queriam?. A resposta da parte atingida pelas queixas que nada têm de novas, diga-se de passagem, veio com o mesmo tom de dureza.
Segundo os jornais, o comissário de comércio da União Européia, Peter Mandelson, explanou que a proposta de redução média das tarifas de importação no Brasil e Índia teria um impacto ameno, porquanto a subtração no valor das tarifas seria de apenas 1,3%.
A repercussão imediata veio da capital dos Estados Unidos, onde o porta-voz de George W. Bush se referiu ao desapontamento do presidente, além de lançar a culpa pelo rotundo ?fiasco de Potsdam? aos governos do Brasil e Índia. Lula espanou a poeira. O agronegócio torceu o nariz, mas os exportadores aplaudiram a firmeza do governo, aproveitando para reforçar a idéia dos acordos bilaterais.