Lula e Ciro dizem que não querem. Serra aceita. E Garotinho também rejeita. É a renovação do acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com um empréstimo adicional entre l0 e 20 bilhões de dólares, que há poucos meses parecia até dispensável, mas que o ataque especulativo que o nosso país sofre transforma em necessidade indescartável. A moeda internacional é o dólar, queiramos ou não. E é preciso ter dela reservas, seja como garantia de solidez, como para cumprir obrigações de pagamentos internacionais e importações. O dólar é o lastro da maioria das demais moedas, inclusive a nossa. Conversível em todo o mundo, a cada vez em que um país sofre ataques especulativos, serve de refúgio para ativos que não sabem onde se abrigar.
O ataque especulativo que hoje sofremos tem diversas causas, uma das principais, e a que desencadeou o processo, a proximidade das eleições. E a crise argentina, sempre olhada como doença transmissível, capaz de atacar em primeiríssimo lugar os países vizinhos, entre eles o Brasil, não importa se temos economia sólida e de bases distintas do país doente. Já havíamos conseguido descolar o Brasil da crise argentina, mostrando ao mundo que somos diferentes e bem melhor estruturados financeira e economicamente. Quase vencemos a ignorância de muitos que imaginam que na América Latina tudo é a mesma coisa. Entre eles, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos.
O andamento das pesquisas eleitorais, entretanto, foi aproximando da Presidência do Brasil alguém da esquerda. Um candidato mais ou menos extremado, não importa, sempre causa desconfianças no mercado. E, com uma oferta múltipla de aplicações em todo o mundo, os investidores, na dúvida, descartam os países com essas perspectivas políticas. O resultado foi o agravamento da crise, o aumento da turbulência no mercado, vinda de fora e também internamente. O dólar explodiu em relação ao real e os dólares que aportavam aqui minguaram. E muitos começaram a retirar os que aqui haviam aplicado. Esse processo continua assustadoramente, deixando no ar a pergunta: será que o País agüenta até que assuma o próximo governo?
Houve entre os presidenciáveis um passo no sentido da defesa dos interesses nacionais, quando Lula comprometeu-se a, se eleito, cumprir os compromissos assumidos, o que foi repetido por Serra e outros candidatos. A negociação de renovação do acordo com o fundo recomeçou e aí surgiu um impasse: candidatos como Lula, líder nas pesquisas, entenderam que nenhum acordo novo ou renovação do vigente deve estender-se sobre o novo mandato presidencial. Não querem assumir os compromissos do atual governo. Não endossam um acordo que ultrapasse o mandato de FHC.
Tendo à testa o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e a supervisão do ministro da Fazenda, Pedro Malan, o governo brasileiro seguiu com os entendimentos, apesar da oposição já expressa. E tem pressa, pois a situação se deteriora dia a dia. Já foi fixado o dia 12 de agosto como data em que os entendimentos deverão estar ultimados. O acordo será por etapas. Os recursos liberados pelo FMI serão entregues em várias parcelas, até 31 de dezembro.
Quando assumir, o novo presidente, seja ele Lula, Ciro ou Serra, decidirá se continuará sacando ou interromperá o acordo. Uma solução que respeita a posição que vier a tomar o novo governo e, ao mesmo tempo, põe a mão na tábua de salvação, antes que o Brasil naufrague.