Acima de tudo, rubro-negro

Dizem que o povo curitibano tem várias manias. Uma delas é achar que quem mora na cidade necessariamente tem que torcer por um time local. Acho louvável que a cidade tenha clubes de destaque no futebol nacional, mas a preferência de cada torcedor precisa ser respeitada. Moramos em um país de dimensões continentais, integrado por meios de comunicação de abrangência nacional, tais como redes de rádio e TV e editoras de jornais e revistas de grande circulação. Nessas condições, a identificação do time do coração transcende os limites geográficos.

Há algumas semanas, meu Mengão, vindo de uma goleada sobre o Bahia, preparava-se para enfrentar o Coritiba, no Alto da Glória. Aqui na redação, brinquei com o colega Luiz Augusto Xavier: “Se enfiamos seis gols no Bahia, no Coxa serão no mínimo doze!”. Ele me alertou que o Flamengo é que poderia levar um chocolate. Não deu outra: o rubro-negro perdeu de 5 a 0. O Xavier não perdoou e citou meu palpite infeliz na coluna dele. Para tripudiar ainda mais, me chamou de “carioca de Joinville”. Por esse critério, nosso colega palmeirense Osni Gomes seria “paulistano de Ponta Grossa” e o santista Douglas de Souza receberia o epíteto de “caiçara de Alto Paraná”.

Por razões culturais, os times cariocas possuem grande torcida em Santa Catarina (e em diversas regiões brasileiras, como o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste), desde os áureos tempos da Rádio Nacional, assim como os clubes paulistas têm lá seus aficionados no interior do Paraná. Muitos desses torcedores dividem a paixão clubística entre o “time do coração” e uma equipe local, que dificilmente chega à primeira divisão do futebol brasileiro. Para as torcidas de Atlético e Coritiba, clubes de expressão nacional que já conquistaram títulos brasileiros, fica difícil entender esse tipo de comportamento, tão comum no interior do Paraná e em Santa Catarina. E aí começam as cobranças: “Mas por que você torce para o Flamengo se você não mora no Rio?”. Esquecem que o rubro-negro é o clube de maior torcida no País. Em São Paulo, o Mengão tem a quinta maior torcida, à frente de times locais como a Portuguesa.

Moro em Curitiba desde 1983, quando tinha 16 anos, mas não sou obrigado a ter um time aqui. Torço pelo êxito dos clubes paranenses em todas competições, desde que não seja contra meu Mengão (ou, no caso do Londrina, que disputa a segundona, contra o Joinville). Até tenho certa simpatia pelo Atlético, cujas cores homenageiam o Flamengo, só que esse sentimento ficou seriamente abalado depois que o time da Baixada (assim como seus rivais do Alto da Glória e da Vila Capanema) resolveu se tornar carrasco do Fla. E, apesar de todos os tropeços, defenderei sempre meu sagrado direito de continuar rubro-negro.

Ari Silveira  (ari@oestadodoparana.com.br) é chefe de Reportagem de O Estado e flamenguista.

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