Organizado ainda no século passado pelos governos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, o Mercosul continua dividindo as opiniões quando de trata de estabelecer qual é a medida exata entre os acertos e os equívocos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente à 24.ª Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada em Montevidéu e tendo como anfitrião o primeiro mandatário uruguaio, Tabaré Vázquez, deu uma contribuição que mais uma vez o credencia como observador dotado de notável perspicácia para discernir o óbvio.
Proclamou sua excelência que o Mercosul somente não avançou mais por causa dos ?inimigos internos e externos?. A declaração deve ter causado alguma estranheza aos demais presidentes, tendo em vista a não-identificação dos inimigos externos, que em oportunidade futura o presidente brasileiro teria o dever de nomear, até mesmo para que os integrantes possam interagir e traçar a linha comum de defesa.
Já na questão interna, Lula não se fez de rogado e lançou sobre as corporações de técnicos e burocratas das administrações dos países formadores a pecha de adversários contumazes do sucesso do Mercosul. A cúpula, no entanto, fez questão de reiterar que as providências para a recepção oficial do novo parceiro do bloco, a Venezuela, estão em fase conclusiva.
Lula não explicou se incluiu de antemão entre os adversários do Mercosul também a burocracia do governo venezuelano, presidido por seu amigo Hugo Chávez e, tampouco, se esse novo contingente de técnicos ávidos para complicar ainda mais a vida dos políticos, na visão esclarecida do presidente brasileiro, aumentará o passivo de assimetrias e frustrações já catalogadas pela indisciplinada união aduaneira.
O presidente uruguaio Tabaré Vázquez, que passou a presidência do bloco para Cristina Kirchner, presidente da Argentina, pregou a urgência de garantir aos países de economias menores a flexibilidade necessária para a celebração de acordos comerciais com países de outras regiões. Não é de hoje que o Uruguai luta para receber a permissão de negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos.
Cristina, sintonizada com a cartilha adotada recentemente pelo governo argentino, voltou a atacar os Estados Unidos e a ?suja? operação feita por alguns governos que tratam os países sul-americanos como se fossem seus ?empregados?. Aos ?vizinhos? impertinentes, Cristina mencionou o risco do aumento das desavenças internas e o conseqüente retardamento da completa integração.