De uma sensibilidade pungente o artigo do advogado Djalma Filho, A paixão de Maria, publicado na edição de 27 de março do Almanaque. Salientam-se ali, como expoentes do cru realismo com que o autor trata o assunto, três abordagens merecedoras de análise mais aprofundada se quisermos salvaguardar séculos de inspiração espiritual concedidos à humanidade pelos personagens retratados.
Primeiro, ?qual pai mandaria o próprio filho morrer??. Deus não quer que ninguém morra, mas que tenha a vida eterna (vitória sobre a morte física). A linguagem de Deus sempre foi traduzida em atitudes compreensíveis ao homem. De Adão até o último profeta nenhuma maravilha divina ocorreu sem a participação do homem. Conhecendo a natureza do homem que criara, modificada aqui e ali pela ação do livre arbítrio imperdível que lhe concedera, tinha Deus um propósito final no evento sacrificial que atingiu o Seu Filho: conceder à humanidade a última oportunidade de não perder a capacidade de existir.
Portanto, Deus não foi simplesmente cruel, apenas usou o recurso de linguagem mais adequado àquele momento da trajetória humana. Entre a nossa civilização e as civilizações daquela época, o conceito de sacrifício, mesmo de sacrifício humano, é muito relativo. Lá, era lei, ritual, para pedir, honrar ou agradecer. Hoje, a nossa indiferença se recusa a ver o sacrifício de milhões que passam fome, nudez, doenças e escravidões, injustificadamente.
O sacrifício não foi em vão. Nos últimos dois mil anos, milhões têm sido transformados pelo sangue que jorrou do Calvário. Neste momento, em algum lugar do mundo, o mal está sendo derrotado e uma alma resgatada porque creu no poder daquele que deu a vida para que não nos perdêssemos.
Segundo, Jesus, homem, desde a infância inserido no conhecimento das escrituras e nos profetas, sabia o que estava reservado à existência terrena daquele que haveria de vir. Mesmo nunca tendo se declarado Messias, incorporou a missão para a qual havia sido destinado. Sua humanidade tremeu, temeu e verteu sangue no Getsêmani, mas sua natureza divina justificou o que precisava ocorrer para que o homem tivesse a chance de ser resgatado.
Ao assumir os pecados que causam a separação entre o homem e Deus, assumiu também as conseqüências do seu ato, conforme afirmam 2 Coríntios 5:21 e Gálatas 3:13. Sua condição de homem perfeito não o impediu de se unir aos pecadores, atraindo sobre si a maldição que eles mereciam. Existe amor maior? Até a justiça romana, tão criteriosa nas suas interpretações e aplicações, se declarou impotente diante da consumação de um fato que transcende a legalista compreensão do magistrado.
Terceiro, Maria é realmente uma personagem crucial. A revelação do anjo a fez portadora da graça por toda a vida e, somente uma mãe cheia de graça seria capaz de embotar o sofrimento, trocando-o pela certeza da recompensa espiritual.
O amor demonstrado por Cristo e por Maria é o verdadeiro amor de Deus. Não se detém nas dificuldades nem se amedronta diante da morte. Suplanta o egoísmo da mesma forma que supera a dor. Comprendê-lo, como? Só ultrapassando os instáveis limites da nossa condição humana.
Tivesse Jesus, a sua súplica atendida pelo Pai, ou obtido correspondência o desejo íntimo de uma mãe, como estaríamos hoje (estaríamos?), nós, seus irmãos e filhos por adoção, sem essa referência que nos inspira e nos preserva a fé e a esperança?
José Luiz Batista, ministro evangélico, vice-presidente do Ministério Divina Graça
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