Acadêmico: qual é seu futuro profissional?

No ano de 2002 mais de 63 mil pessoas tornaram-se bacharéis em Direito no nosso País. Esse número está crescendo a cada ano. Os exames de ordem são cada vez mais difíceis. Os concursos estão se tornando uma barreira quase intransponível. A concorrência na advocacia massificou-se. Nesse contexto, que futuro tem o acadêmico de Direito? Vejamos.

O futuro do acadêmico não é diferente de qualquer outro profissional na era da globalização. Só terão sucesso certo os que se dedicarem de corpo e alma ao que estão fazendo. Um rei, certa feita, colocou uma grande pedra no caminho. Todos começaram a usar um desvio. Um camponês, entretanto, resolveu removê-la e conseguiu. Para sua surpresa, um mundo de moedas de ouro ali se encontravam, com um bilhete do rei: ao remover os grandes obstáculos encontramos as maiores oportunidades na vida!. Assim é.

Superar todos os obstáculos, eis o desafio. Meta certa, objetivo determinado e grande obstinação, além de empenho e dedicação total. Os mais fracos não suportarão o peso da responsabilidade. Irão sucumbir. Serão insucesso, com certeza. Vencerão os que tiverem espírito de luta. Quem se deixa levar pelo comodismo já tem lugar garantido: estará dentre os não-vencedores.

O acadêmico do terceiro milênio tem que se conscientizar que a faculdade, por si só, já não é suficiente para se conquistar uma profissão. Ela já não oferece nenhuma garantia de emprego, salvo algumas pouquíssimas ilhas de exuberância acadêmica.

O ensino de um modo geral vem respaldado por currículos repletos de informações, de teorias e de princípios científicos (em tese úteis e até interessantes) mas que no dia-a-dia nem sempre são bem ministrados. E quando ministrados não são devidamente aprendidos (muitas vezes só decorados). E o que é aprendido (decorado) não é usado (porque não se aprende fazendo – learning doing -; aprende-se para depois saber fazer).

A velha concepção, em suma, é a seguinte: primeiro adquirir conhecimentos, para depois aprender a usá-los. Primeiro a sistematização de tudo, depois a problematização. Primeiro a teoria, depois a prática. Esse método de ensino hoje já não é válido!

Você não pode ser um bacharel “hipo” (hipoinformado, hipocapacitado, etc.) nem “Vasa” (cf. Cláudio de Moura Castro, em Veja de 29/5/02, pág. 22, que nos recorda a seguinte passagem histórica: “O rei Gustavo Adolfo da Suécia, para defender-se de seus inimigos, decidiu criar o mais poderoso navio de guerra. Importou os melhores construtores navais, e os cofres públicos foram sangrados para produzir um barco invencível. Mas o rei o queria ainda mais invencível e mandou instalar mais um deque superior, com mais peças de artilharia. O navio, com o nome de Vasa, enfunou as velas em 1628 e, sob um vento suave, singrou a baía de Estocolmo. Mas, subitamente, apenas deixando o porto, vira e afunda. Era instável, pelo excesso de canhões e pela falta de lastro”).

O acadêmico vencedor tem que desenvolver competência, que “é a capacidade do sujeito de mobilizar recursos cognitivos visando a abordar uma situação complexa” (Vasco Pedro Moretto, Justilex ano 1, n.º 4, abril/2002, pág. 69). Do contrário, não consegue concorrer em igualdades de condições. Tem que ter acesso às mesmas informações dos outros concorrentes. Esse é o esforço que deve ser empreendido. Nivelar em termos de conhecimento atualizado. Depois, quando todos possuem os mesmos saberes, vence quem mais se dedica, quem mais se empenha e quem tem maior perseverança.

Luiz Flávio Gomes

é doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madrid, mestre em Direito Penal pela USP, co-fundador e primeiro presidente do IBCCRIM e diretor-presidente do IELF (Cursos jurídicos transmitidos em tempo real para todo país –
www.ielf.com.br.

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