Abundância dos juros

O presidente Lula, em linguagem popular, quase chula, aconselhou os brasileiros a levantar o traseiro de suas cadeiras e andar à caça de juros mais baixos. Provocou protestos, pois desde logo foi interpretado como advogado do governo, que é responsabilizado pelo alto custo do dinheiro. Para formar esse libelo acusatório, criticam-se as repetidas altas da Selic, taxa básica de juros ditada pelo Banco Central, percentual do custo do dinheiro que serve como ponto de partida para os elevadíssimos juros que acabam sendo cobrados de pessoas físicas e empresas, no guichê dos bancos.

Tem razão o presidente da República ao reclamar que devemos nos levantar de nossas cadeiras para que os juros não sejam tão abundantes. Quis dizer que o dinheiro, sendo um meio de pagamento e, portanto, uma mercadoria ou sua tradução, depende da lei da oferta e da procura. Se a gente sair à cata dos juros menores, certamente não pagará os maiores. É duvidoso, entretanto, que os pague pequenos.

Garimpando de banco em banco, de financeira em financeira, vamos encontrar juros diferenciados e, se nos for dado passar a mão no mais barato, para o qual não adianta só levantar o traseiro das cadeiras, mas também outras condições que formam o crédito. Dentre elas, a reciprocidade que se ofereça ao estabelecimento financeiro, a sua disponibilidade de recursos para empréstimos e até mesmo o humor do gerente.

Acontece que na formação dos juros essa garimpagem aconselhada pelo presidente representa muito pouco em termos de variação do custo do dinheiro. Ele é alto porque a taxa que o governo dita, via Banco Central, é alta. Aliás, a mais alta do mundo. É alta também porque sobre as operações financeiras incidem muitos e elevados tributos cobrados pelo governo. Também é elevada porque há mais procura que oferta. Há mais gente precisando de dinheiro que bancos oferecendo e, aí, estes são seletivos. Geralmente emprestam para quem menos precisa. E cobram mais de quem mais precisa, porque estes oferecem menos garantias. O risco aumenta, sobem os juros.

Mas a razão maior dos juros altos não é a preguiça dos tomadores em levantarem seus traseiros de suas cadeiras, mas o próprio governo, que é o maior cliente do dinheiro existente no mercado. E impulsiona os juros para cima porque quer colocar seus títulos, tomar dinheiro emprestado em grandes quantidades. E para que existam os que queiram emprestar-lhe, é preciso competir com investidores internos e do exterior. Como o Brasil ainda está longe de ser um país absolutamente seguro no mundo dos negócios, só consegue uma fatia razoável desse dinheiro levantando seu traseirão e oferecendo juros dos mais caros praticados no planeta.

É verdade que muito dinheiro está aumentando os meios de pagamento, como, por exemplo, os empréstimos para aposentados e pensionistas e para os pequenos negócios. Aí, Lula tem razão. Mas só isso não justifica o comodismo de quem não se levanta para procurar dinheiro mais barato. É que muita gente e muitas empresas não se dão ao trabalho de procurar, pois sabem que dinheiro barato hoje é história da carochinha.

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