A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pelo volume de manifestações negativas despertadas em vários países, acabou colocando a própria instituição na incômoda perspectiva do baixo interesse em combater a corrupção, quando se julgava ser de seu interesse a defesa irrestrita da ética na política.
Em princípio foi essa a avaliação feita por Bruno Speck, representante da Transparência Internacional (TI) na América Latina. ?A decisão foi tomada e deve ser acatada, como disse o presidente Lula (em viagem ao exterior), mas não significa que não tenha impacto sobre a percepção da corrupção no Brasil?, comentou com os jornalistas que o procuraram.
Speck mora no Brasil há dez anos e na condição de integrante duma organização que adotou como tarefa específica o acompanhamento sistemático dos governos nacionais, visando plasmar um retrato sem retoques da insidiosa praga da corrupção, enfatizou que a atitude assumida pelos senadores que votaram a favor de Renan (40 contra a cassação e seis abstenções), caminhou na direção oposta à posição exemplar do Supremo Tribunal Federal (STF), ao aceitar a denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República contra os chamados mensaleiros.
Desse modo, se a nação manifesta apreço pelas investigações realizadas pela Polícia Federal e Controladoria Geral da União, no combate aos desvios praticados na administração pública, a inegável satisfação se transformou em grossa frustração com o resultado da sessão secreta do Senado.
Perante as nações mais organizadas do ponto de vista político, a indulgência concedida ao presidente do Senado será tratada como um sério retrocesso no aperfeiçoamento do modelo institucional brasileiro. Para Speck, mesmo que o processo tenha seguido as normas legais, o regimento interno do Senado permitiu um fluxo interminável de interpretações permissivas em defesa de Renan.
Estudiosos e mesmo a opinião pública não mais acatam o entulho enxertado na legislação, com a finalidade expressa de salvar mandatos e reputações derrubadas pelo descrédito. Foi o que ocorreu no caso do presidente do Senado, que não teve pejo de valer-se de dispositivo imposto pela ditadura militar para tornar secreta uma votação que o interesse nacional exigia que fosse aberta.