A absolvição de Jaqueline Roriz (PMN-DF) com uma larga margem de votos tranquilizou a defesa de outro parlamentar que está tendo sua conduta analisada ainda no Conselho de Ética e Decoro da Câmara.
Diferente de 2005, quando teve de renunciar para escapar da cassação, Valdemar da Costa Neto (PR-SP) poderá ser absolvido já no início do processo. Pelo novo trâmite do Conselho, no dia 14 de setembro o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) apresentará seu parecer preliminar e a expectativa é que independente da posição do tucano o arquivamento é a tendência.
Valdemar foi levado ao Conselho de Ética por PSOL e PPS. Os partidos reuniram denúncias veiculadas pela imprensa que apontam a participação do deputado em reuniões no Ministério dos Transportes nas quais se pedia a empresários o pagamento de propina para a liberação de recursos.
Consta também no pedido de investigação um vídeo no qual Valdemar negocia a liberação de recursos do ministério para que o deputado Davi Alves Silva Júnior ingresse no PR.
A representação também traz um trecho de entrevista de Valdemar a uma rádio de Mogi das Cruzes na qual ele diz “querer” uma diretoria de um banco público para ajudar aliados a liberar verbas. Um aditamento incluiu ainda no escopo da investigação a denúncia de fraudes na “Feira da Madrugada” em São Paulo.
Diferente do que aconteceu com Jaqueline, a defesa de Valdemar é feita de forma aberta por alguns deputados. “Não há materialidade nenhuma”, diz o líder do PR, Lincoln Portela.
Mesmo quem ataca Valdemar já dá a absolvição como certa. “No caso do Valdemar, talvez a absolvição seja ainda no Conselho. Essa legislatura precocemente mostrou uma senilidade de valores”, afirma o líder do PSOL, Chico Alencar.
Para ele, o resultado no caso Jaqueline mostrou que a Câmara considera a corrupção como algo natural. Em 2005, Valdemar foi um dos citados no escândalo do mensalão e renunciou ao mandato. Ele é réu no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
No dia seguinte a ter recebido o apoio dos colegas, Jaqueline retomou sua rotina parlamentar. Ela participou da votação do projeto que cria o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e conversou com alguns colegas.
A deputada estava dentro do plenário quando uma manifestante entrou no Salão Verde da Casa vestindo de “capeta” protestando contra sua absolvição. No plenário, o assunto foi praticamente ignorado, sendo raras as manifestações sobre o episódio de terça-feira.
Tentando pegar carona na indignação de setores da sociedade, alguns deputados buscarão ressuscitar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que acaba com o voto secreto no Congresso. O projeto foi aprovado em primeiro turno em 2006.
Desde então, a votação em segundo turno vem sendo protelada. Um grupo de parlamentares pretende relançar a Frente pelo Voto Aberto e pressionar os líderes para colocar o tema em pauta.
Enquanto isso, a Casa continuará podendo usar o segredo do voto para esconder a opinião dos parlamentares sobre a atuação de colegas envolvidos em caso de corrupção.