Abortos inseguros matam 70 mil mulheres por ano em todo o mundo

Brasília – A Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na siga em inglês), entidade que atua em 150 países, divulgou nesta quarta-feira (30) um relatório sobre o aborto inseguro no mundo. Segundo a pesquisa, intitulada "Morte e Negação: Abortamento Inseguro e Pobreza", estima-se que a cada ano são realizados cerca de 46 milhões de abortos para interrupção de gravidez indesejada em todo o mundo, dos quais 19 milhões são feitos de forma insegura e 70 mil resultam em morte materna.

O estudo mostra que 96% dos procedimentos inseguros ocorrem em países em desenvolvimento. A América Latina registra 17% dos abortos clandestinos, atrás apenas da África (58%). O Brasil é responsável por um milhão de interrupções de gravidez de forma insegura a cada ano. A média brasileira no ano passado foi de 2,07 abortos induzidos por grupo de 100 mulheres.

?O abortamento inseguro é uma das maiores causas de mortalidade materna em todo o mundo: uma tragédia humana que poderia ser evitada e que revela o fracasso dos governos nacionais e da comunidade internacional em solucionar um tema de saúde pública e que perpetua uma das maiores injustiças sociais, separando as nações ricas das pobres?, disse, no relatório, Steven Sinding, diretor-geral da Federação Internacional de Planejamento Familiar.

Segundo o relatório da entidade, 25% da população mundial vivem em países onde o aborto é considerado ilegal ou severamente restrito. O estudo aponta 31 países em que a interrupção voluntária da gravidez é legalizada, como Canadá, França, Irã, Camboja, Etiópia, México, Paquistão, Portugal, Espanha e África do Sul.

A Federação Internacional de Planejamento Familiar destaca o exemplo da Romênia, onde o taxa de mortalidade materna caiu depois que uma lei que proibia o aborto foi revogada. A lei havia sido aprovada em 1966. Entre 1964 e 1988, a mortalidade materna no país subiu de 80 mortes por grupo de 100 mil nascidos vivos para 180 mortes. Após a revogação da lei, a taxa de mortalidade caiu para 40 mortes para cada 100 mil nascidos vivos.

?Esse é um exemplo muito claro, quase um experimento social que mostra que a proibição não diminui a prática do aborto, ele só aumenta a mortalidade materna?, afirmou a diretora da IPPF, Carmem Barroso.

Segundo ela, outra experiência internacional que obteve sucesso na na redução de mortes maternas ocorreu no Uruguai, no maior hospital público do país. Entre 2000 e 2002, 48% das mortes maternas registradas no hospital foram em conseqüência de abortos inseguros.

Para diminuir o índice, os médicos implementaram o projeto Inciativas Sanitárias para Redução do Aborto Inseguro, por meio do qual as mulheres que pretendiam fazer um aborto passavam por consultas pré-aborto. O projeto foi reconhecido pelo governo uruguaio e atualmente está em estudo a expansão para todo o Uruguai.

?No Uruguai, assim como no Brasil, as leis são muito restritivas, mas o que está proibido é fazer o aborto, não está proibido dar informações?, contou o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Anibal Faúndes, que prestou assessoria para a implementação do projeto. De acordo com ele, na consulta os médicos ofereciam alternativas às mulheres, como dar continuidade à gravidez e oferecer o bebê à adoção após o parto.

?Àquelas que apesar de todo aconselhamento decidem fazer um aborto, eles dão informações sobre os riscos de cada um dos procedimentos clandestinos, incluindo a curetagem, o uso de sonda, de objetos metálicos colocados dentro do útero, mas também informando sobre o uso do misoprostol, que é a droga que está no Cytotec.?

De acordo com o pesquisador, se esse medicamento, que é de uso controlado, for usado nas doses aconselhadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), os riscos de complicação são menores.

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